Um desaparecido

Passeio de barco em família acaba em tragédia na RMC

O corpo de Jânio Alves Martins, 35 anos, um dos seis integrantes que estava no barco que afundou na represa do Capivari, em Campina Grande do Sul, no domingo, era o único que continuava desaparecido até a noite de ontem. O corpo da esposa dele, Franciele Volaroski, 27, foi o primeiro a ser encontrado pelos mergulhadores do Grupo de Operações de Socorro Tático (Gost), do Corpo de Bombeiros, por volta das 6h30. O corpo do pai dela, Jorge Volaroski, 55, foi encontrado horas depois.

Os outros três tripulantes da embarcação foram encontrados com vida à margem da represa, cerca de meia hora antes do corpo de Franciele ser retirado da água. Everton do Nascimento, 31, Maicon Júlio Caetano da Silva, 26, e Márcio Francisco dos Santos, 42, foram encaminhados por familiares ao hospital e nenhum deles corre risco de vida.

Nove mergulhadores do Gost e outros seis da Marinha trabalharam nas buscas pelo corpo de Jânio. “A água é bastante fria e escura. A profundidade média da represa fica entre 18 e 23 metros. A soma destes fatores dificulta o trabalho dos mergulhadores. Para que eles não sofram com a redução da pressão, precisamos revezar com mais frequência quem está submerso”, explicou o capitão Daniel Lorenzetto, subcomandante do Gost. As buscas por Jânio foram encerradas por volta das 18h e devem ser retomadas na manhã de hoje. “Caso ele não seja encontrado até quarta, vamos intensificar mais as buscas na superfície”, disse o oficial.

Pescaria

As vítimas eram de Colombo e, segundo Isaque Camargo, cunhado de Franciele, eles saíram de casa por volta das 05h30 de domingo e deviam voltar às 19h. A demora e a falta de comunicação, já que nenhum deles atendia os celulares, preocuparam os parentes. Eles foram procurá-los no pesqueiro do “Tio Maneco”, comércio de iscas e outros artigos de pesca que funciona à margem da represa. Chegando ao local, encontraram apenas os carros e acionaram os bombeiros.

As buscas iniciaram por volta das 02h de ontem. De acordo com o tenente Murillo Rotondo, do Gost, o nevoeiro da madrugada dificultou o começo do resgate. Um pescador que aluga barcos no pesqueiro, que preferiu não ter o nome divulgado, disse que o barco onde as seis pessoas estavam era particular. Segundo ele, os barcos ali alugados são somente a remo e são fornecidos coletes. O pescador disse ainda que o barco tinha bico chato, o que facilitaria a entrada de água e o afundamento.

Várias irregularidades na pescaria

Márcio Francisco dos Santos, 42 anos, que foi apontado pelo Corpo de Bombeiros como sendo o piloto do barco, não tinha a Carteira de Habilitação de Amador, na categoria Arrais, exigência mínima para pilotar uma embarcação como a que estava o grupo.

Além disso, de acordo com os Bombeiros, a tragédia poderia ter sido evitada se as medidas de segurança tivessem sido tomadas. Coletes salva-vidas, por exemplo, não foram encontrados com as vítimas, nem na região onde o barco afundou. A Capitania dos Portos de Paranaguá, vinculada à Marinha, abriu inquérito para apurar as causas do acidente.

O barco de madeira e alumínio, movido por um motor de 20 hps, chamado popularmente de “voadeira”, permanecia submerso até à noite de ontem. O local onde foi encontrado tinha 22 metros de profundidade e estava a 1,7 quilômetros da saída do pesqueiro. Segundo a tenente Kelly Frizzo, da Marinha, a embarcação não tinha registro na Capitania dos Portos. “Como não temos a inscrição do barco, não sabemos de qual modelo era. Por isso é prematuro dizer se o número de pessoas excedia a capacidade permitida, embora essa possibilidade seja grande”, disse a tenente. Peritos da Marinha foram enviados até a represa para interrogar testemunhas e levantar dados para a investigação. O inquérito tem prazo de 90 dias para ser finalizado, mas pode ser prorrogado.

A tenente Kelly ainda explicou que a última fiscalização na rep,resa foi no Carnaval, pelo período de uma semana. A Marinha faz inspeções periodicamente durante o ano, mas as datas não são informadas para que sejam flagradas situações que possam colocar em risco a vida de pessoas. A responsabilidade nesses casos é dos proprietários e condutores, da mesma maneira como aconteceu com veículos terrestres.

Colaborou: Luisa Nucada