Problema social

Fábrica no Santa Quitéria se transforma em lixão e mocó

A fábrica de pão fechada há cerca de 15 anos se tornou problema para quem mora no Santa Quitéria e na Vila Buriti, no Sítio Cercado. O terreno e o que restou do prédio, que um dia abrigaram a unidade industrial da padaria Kaminski, viraram depósito de lixo, abrigo de moradores de rua e, segundo os vizinhos, refúgio de criminosos e usuários de drogas.

O imóvel ocupa quase uma quadra, com entradas pelas ruas Guilherme Martini e Professor Ulisses Vieira. Nos fundos, fica o Jardinete Vera Vargas e o Rio Barigui. Nas dezenas de casas ao redor e em toda a redondeza, é generalizada a reclamação de sujeira e frequentes assaltos, praticados por bandidos que se escondem no imóvel. “Quando escurece, os ‘noias’ tomam conta. Dá medo de passar por ali. Muitas vezes cruzam o rio e ficam encostados no nosso muro. Chutam o portão, provocam”, afirma Rita Carias de Souza, que há 32 anos mora no Conjunto Residencial Buriti, condomínio com 464 apartamentos onde vivem mais de 1.500 pessoas.

Pedágio

O síndico do conjunto, Vanderlei Moreira Martins, conta que bandidos cobravam “pedágio” de quem tentava passar pela ponte sobre o Barigui, que caiu há cerca de 60 dias. “Quem não pagava R$ 4 ou R$ 10 era assaltado e os marginais corriam para o barracão. Aquilo virou uma cracolândia. À noite, quem desce no ponto final do ônibus Santa Quitéria é sempre abordado”, relata.

O prédio que hoje assusta já foi o local de trabalho de Rita. “Eu trabalhava na produção de pão. Depois que a fábrica fechou, uma companhia de importação funcionou por um tempo ali. Mas depois ficou tudo abandonado e o pessoal invadiu”, conta.

Reciclagem

Felipe Rosa
Fábrica fechada há quase 15 anos. Moradores temem passar pelo local.

Hoje, o negócio que funciona ali é o ganha-pão de catadores de material reciclável e pessoas que trabalham na separação do lixo. Ao entrar, a reportagem da Tribuna foi recebida por uma mulher que se apresentou como responsável pelo depósito, mas não quis se identificar. “Compramos o material, separamos, prensamos e vendemos para reciclagem. Não temos registro, mas damos oportunidade para muitas garotas que nos ajudam aqui”, afirma. Ela conta que algumas pessoas moram por ali mesmo, em barracos construídos no prédio da fábrica.

Moradores aguardam solução

A Associação de Moradores do Santa Quitéria já solicitou providências ao Ministério Público. “Tivemos audiência no ano passado, mas, por enquanto, está tudo parado. Estamos esperando a solução, pois a situação está perigosa, tanto do ponto de vista da segurança como da saúde da população”, diz a presidente da associação, Cynthia Werpachowski.

O imóvel está em nome da empresa Padaria Universal Ltda., pessoa jurídica que detém o patrimônio da antiga fábrica Kaminski, e está atrelado a diversas ações judiciais. Segundo a prefeitura, as secretarias de Urbanismo e Meio Ambiente já notificaram os proprietários, mas a situação do imóvel impediria outras atitudes por parte do município.

Reintegração

A reportagem conversou com o procurador da empresa, Vicente Cordeiro dos Santos. Ele diz que os proprietários estão ingressando na Justiça com pedido de reintegração de posse do terreno. “Nós recuperamos a empresa, estamos pagando as dívidas e queremos a retirada do pessoal que está lá irregularmente”, garante.

Promessa de nova ponte

Felipe Rosa
Travessia arriscada no Barigui.

Segundo a prefeitura, moradores da região poderão contar em breve com nova ponte sobre o Rio Barigui. A passarela metálica que liga as ruas Celso Luiz Peixoto Ribas e Professor Ulisses Vieira cedeu parcialmente há cerca de dois meses. Quem precisa se deslocar entre a Vila Buriti e Santa Quitéria tem que dar longa volta por trilha de terra ou enfrentar travessia arriscada.

A prefeitura diz que a retirada da ponte danificada e a construção de nova estrutura deve começar até o próximo dia 15. A procuradoria do município e o Tribunal de Contas analisam documentos necessários para a dispensa de licitação e contratação de empresa em regime de urgência.