É só stress!

Trânsito complicado ultrapassa horário de pico na Linha Verde

O que era para ser a solução para desafogar o trânsito, transformando a BR-476 (antiga 116) em ligação do Atuba ao Pinheirinho, tornou-se transtorno para quem usa a via no dia a dia. As reclamações sobre congestionamentos na Linha Verde são frequentes e vão além dos horários de pico. Depois de feito o estrago, há saída para a via?

A auxiliar de limpeza Adriana Maria de Lima perde todos os dias cerca de duas horas para chegar no emprego. Ela mora em Fazenda Rio Grande e trabalha na Vila Fanny. “Tenho que acordar bem cedo para chegar na hora”, conta. Ela diz que a instalação recente de mais um semáforo complicou mais o trânsito.

Pietro Lopes Rufino, também critica o novo sinaleiro colocado na saída do Pinheirinho. Ele também mora na Fazenda Rio Grande e, para evitar os congestionamentos, decidiu fazer academia depois que sai do trabalho. “Se for direto, demoro quase uma hora e meia. Saindo depois das 20h chego em 40 minutos. Fico menos tempo no trânsito e economizo gasolina”, revela.

A operadora de caixa Dayana Santana não tem pressa para ir embora do trabalho. “Vou mais tarde para fugir do horário de pico”, afirma. Ela mora no Tatuquara e trabalha na Vila Fanny, trajeto que costuma fazer em 40 minutos. Sobre a proibição de caminhões na Linha Verde, Dayana acha que não foi boa solução. “Não adiantou nada e nos horários que podem andar acumula uma frota”, reclama.

Planejamento

O diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR), Valter Fanini, aponta que o problema da Linha Verde está na origem. Ele explica que a forma da via deve ser planejada conforme a função que a exerce (percursos de longa distância, curta distância etc.); e não foi isso que aconteceu. “Curitiba há muito não faz essa análise de distinção; não existe classificação funcional como lei na cidade”, ressalta.

Perdas econômicas e sem incentivo pra investimentos

Felipe Rosa
Fanini aponta o caos viário. Faltou informação no projeto.

Pela posição, segundo Valter Fanini – “única via diametral que atravessa a Região Metropolitana de Curitiba inteira”, a Linha Verde naturalmente receberia grande quantidade de veículos. “A incorporação do corredor de ônibus atribuiu outras funções que jamais vai estar preparada em sua capacidade para exercer”, considera.

Além disso, a vocação da Linha Verde, ainda como BR-116, era fazer a logística urbana e metropolitana. “É o eixo natural de passagem de caminhões urbanos. O Contorno Leste é distante para isso, e poucas vias conectam com o contorno”, afirma o diretor do Senge-PR. Desde 2011, o tráfego de caminhões foi restrito na Linha Verde. Com isso, de acordo com Valter, há prejuízo das atividades econômicas e desestimula o investimento na região.

Pesquisa

“Ali juntaram tudo, o pedestre está embolado junto com o automóvel, com os ônibus, com os caminhões. Todas as funções estão ocorrendo simultaneamente, ou seja, foi criado o caos viário”, destaca Valter. De acordo com o diretor, faltaram informações na hora de fazer o projeto da Linha Verde. “Assim como quando se vai fazer uma casa é preciso dizer quantas pessoas vão morar, também teria que ter sido feita pesquisa de origem e destino para saber a demanda da via”, complementa.

Outra questão citada por Valter é o corredor norte-sul dos biarticulados, que tem, o mesmo sentido do projeto do metrô. “O dia que implantar o metrô esvazia, então a função do ônibus é questionável”, diz.

Solução está no zoneamento

O diretor do Senge-PR afirma que, mesmo se eliminados todos os “conflitos” existentes hoje na Linha Verde, com a instalação de passarelas para pedestres, viadutos, trincheiras e a retirada de semáforos e radares, não seria a solução definitiva. “Melhora a curto prazo, mas com o aumento da capacidade muitos que não passam por ali vão começar a passar; e vai congestionar de novo”, esclarece. Para Valter Fanini, o ideal seria mudar o zoneamento e redefinir o papel da Linha Verde. “Eles fazem planejamento intuitivo e, com a escala que tomamos, não dá mais pra intuir. Chegamos ao limite de ocupação total do sistema viário.” “Agora é preciso ser analítico e, para isso, ter modelos matemáticos, de transporte, de engenharia. Os processos têm que ser permanentes, baseados em estatísticas, análise do solo, e operados por pessoas do Ippuc e da Comec”, complementa. Segundo o diretor, o valor desse sistema seria 5% do que custou a Linha Verde e daria as respostas para todo o sistema viário da Região Metropolitana de Curitiba.

Ajuda do governo federal

Dentro do plano de mobilidade enviado pelo Ippuc ao governo federal para angariar recursos, está prevista a conclusão da Linha Verde: entre o viaduto do Tarumã e o Atuba, incluindo transposições de desnível, e o trecho CIC – Sul.

A Linha Verde tem 9 quilômetros de canaleta exclusiva e estão em implantação 12,5 quilômetros -sendo 8,8 no trecho norte e 3,7 no sul. Se a proposta for aprovada pelo governo federal, serão 22 quilômetros de canaletas exclusivas e duas novas linhas de Ligeirão: Atuba/CIC Sul e Atuba/Centro. O custo estimado da obra é de R$ 321,300 milhões.

Além de duas trincheiras em fase de conclusão, estão previstas mais oito para a Linha Verde. Segundo o Ippuc, também deve ser feita a duplicação do viaduto da Rua Alberico Flores Bueno.