Promessa de grana alta

Lucro fácil com “pirâmide” pode virar uma dor de cabeça

Dinheiro rápido e lucros exorbitantes. Esses são os atrativos oferecidos por empresas de fachada que se utilizam do esquema de pirâmide financeira e focam na adesão de novos consultores e não no aumento de volume dos produtos oferecidos. Apesar de ser crime no Brasil, esse tipo de negócio consegue fisgar “sócios” por todo o País. Boa parte dessas empresas trabalha com o chamado marketing multinível e promete retorno financeiro para quem espalhar anúncios pela internet.

De acordo com a Delegacia de Estelionato e Desvio de Cargas (DEDC), em Curitiba pelo menos quatro estabelecimentos com esse perfil estão sob investigação. Só o Procon-PR registrou de janeiro a julho 12 reclamações contra as empresas Telexfree e Bbom. Uma resultou na abertura de processo administrativo. “São oferecidos ganhos enormes em pouco tempo e isso chama a atenção de muita gente. Mas isso não existe, esse lucro é impossível”, explica o delegado Vinícius Borges Martins, titular da especializada.

Estratégia

Na DEDC, um inquérito foi instaurado contra a empresa Multi Click, que atrai internautas com a promessa de ganhar dinheiro compartilhando anúncios com preço mais baixo para os anunciantes. Em seu site, a empresa explica que trabalha com publicidade, no sistema de marketing multinível, e também com produtos físicos, como tablets, agendas, pen drive, livros. E garante que a sustentabilidade do negócio se baseia nas vendas de serviços e produtos.

No Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), há inquérito instaurado contra a Bbom, que tem sede em São Paulo e é especializada em venda direta que também usa estratégias do tal “marketing multinível” para distribuição de seus produtos e serviços. A empresa também vem sendo investigada pela Justiça Federal, que a impediu de receber adesão de novos associados.

Firma mascarada na cidade

A promessa de dinheiro fácil oferecida por uma empresa de Curitiba, também focada no marketing multinível, chamou a atenção de empresário da Bahia, que preferiu não ser identificado. Ele conta que fizeram uma proposta de investimento de R$ 700 com retorno de R$ 4.800. “Pelo o que entendi funciona como uma pirâmide, porém, com a quantidade de golpes que existem em nosso País, procurei o histórico da firma. Ainda estou tentando confirmar a existência dessa empresa. Tenho interesse em participar, mas fico inseguro e busco maiores informações”, conta. A numeração do endereço apontado como sede da empresa, no Vista Alegre, não existe.

Telexfree é investigada

Reprodução
Empresa pode ser multada em até R$ 6 milhões.

O serviço oferecido pela Telexfree consiste em espalhar anúncios pela internet. Para participar, o colaborador precisa pagar taxa de adesão. A empresa oferece aos funcionários o pagamento de comissão a quem trouxer mais membros.

No mês passado, a Telexfree, que tem sede no Espírito Santo, sofreu processo administrativo movido pelo Ministério da Justiça por indícios de formação de pirâmide financeira, prática  considerada crime no Brasil, e poderá ser multada em até R$ 6 milhões caso fique comprovada a fraude.

O Procon-PR também abriu processo administrativo contra a empresa no primeiro semestre deste ano. De acordo com o órgão, será marcada audiência entre as partes para tentar chegar a acordo. Em Curitiba, o Nurce também recebeu denúncia sobre a Telexfree. “Encaminhamos a denúncia aos órgãos que já vinham investigando a empresa”, explicou o delegado Cassiano Aufiero.

Explicações

Em seu site, a Bbom explica que em respeito aos seus associados e ao público em geral, iniciou a “restruturação” (sic) do plano de marketing para o canal de vendas diretas que será apresentada para o Ministério Público Federal (MPF) no momento oportuno e ao Ministério Público de Goiás, com o propósito de “afastar qualquer mácula” relacionada “à suposta alegação de estar praticando pirâmide financeira”

Negócio é atrair consultor

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Martins: desconfiança.

Segundo o delegado Vinícius Borges Martins, essas empresas oferecem serviços e produtos dos mais variados tipos, mas em linha geral se intitulam como companhias de marketing multinível. “As empresas vendem desde rastreadores de veículos até espaços publicitários na internet. Mas o produto não interessa. Esses negócios se baseiam em angariar número cada vez maior de consultores ou vendedores, e não no aumento no volume de vendas”, diz.

Ainda de acordo com o delegado, as pessoas precisam desconfiar de promessas de grandes lucros em um curto espaço de tempo. “É praticamente impossível ganhar o que essas empresas prometem. Para se ter ideia, pra chegar na posição 15 no esquema de pirâmide é preciso vender para metade da população do mundo. Então, quando apresentarem proposta como essa, desconfie”, alerta.

Ilusão

A advogada do Procon-PR Cila dos Santos reforça o alerta do delegado. “Os consumidores chegam até nós completamente iludidos, se sentindo enganados, e tentamos ao máximo fazer nosso trabalho para anular esses contratos. É preciso desconfiar de qualquer negócio que ofereça lucros absurdos e rápidos”, afirma.