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Grupo que surgiu em lar de idosos já tem dois CDs

O repertório de toda uma vida é o combustível dos integrantes do grupo musical Os Velhos Guris, que em 2013 completa dez anos de um projeto que surgiu no Lar dos Idosos – Recanto Tarumã, mantido pela entidade Socorro aos Necessitados, a partir das atividades de musicoterapia. Por conta do curso natural da vida, de lá para cá o grupo teve três formações, mas um dos idealizadores, Odamir Bartholomeu, 81 anos, segue embalando a vida com música de qualidade.

Músico da noite curitibana “no tempo que tinha bonde”, Bartholomeu tocou o inseparável pandeiro em casas noturnas como a boate Marrocos, mas de dia teve uma segunda profissão, de técnico eletrônico. A chegada ao lar aconteceu em 2003, porque não conseguia mais emprego. “Tinha voltado para Curitiba e lembrei que certa vez havia tocado no lar com a Nhá Gabriela e comentei que o final da vida seria aqui. Procurei a FAS (Fundação de Ação Social, que é parceira da entidade) e aquele comentário acabou se realizando”, explica.

Logo no primeiro dia, ele reencontrou um velho amigo músico, Jorge Xavier de Barros, conhecido como “coringa do pandeiro” e cujo nome artístico era Edson Jorge. “Edson por conta do inventor da lâmpada (Thomas Edson) e Jorge em homenagem ao São Jorge”, recorda. “Chegamos no mesmo dia aqui e nos encontramos no refeitório. Foi algo emocionante”, afirma. Reza a lenda que Edson Jorge integrou o grupo vocal Bando da Lua e tocou com Carmem Miranda antes dela ir para os Estados Unidos. “Um biógrafo veio procurá-lo no lar”, defende Bartholomeu.

Terapia

Meses depois, a musicoterapeuta e coordenadora do grupo, Claudimara Zanchetta, veio trabalhar no local com objetivo terapêutico. “O objetivo inicial era trabalhar a história musical de cada morador do lar, mas eles e um terceiro morador, Honório Santos, que como o Jorge já foram chamados para o céu, quiseram mais e fundaram o grupo”, revela.

Dos 117 moradores do Lar dos Idosos- todos homens -, 60% participam da musicoterapia. “São visíveis os reflexos positivos da atividade na autoestima deles. Muitos chegam aqui com depressão, já que a maioria vem por uma situação de abandono, mas a música resgata a alegria de viver, a memória e a vontade se cuidar”, relata. Ela admite que a prática clínica com os integrantes do grupo exigiu um esforço maior. “O atendimento resgata a produção musical da época vivida por eles e, para isso, precisei estudar para poder acompanhá-los, até porque antes de chegar ao lar a minha experiência era oposta, com crianças e jovens”.

Terceiro CD está nos planos da “gurizada”

Os integrantes do grupo já gravaram dois CDS – um de moda de viola e outro de samba -, são consagrados com diversas premiações de projetos envolvendo a terceira idade e já fizeram apresentações memoráveis em lugares importantes da cidade, como o Museu Oscar Niemeyer (MON).

Questionados sobre uma música que define um pouco da trajetória de Odamir Bartholomeu, os atuais integrantes do grupo Os Velhos Guris – José Ferreira da Costa, Ivo Domingues Mendes e Flávio Nunes – apontam o tema Oito Mulheres, de José Baptista, como obra comum.

Se a devoção à música e o gosto pela boemia antes afastaram parte deles da ideia de formar uma família nos moldes tradicionais, hoje, no inverno da vida os aproximaram de maneira inesperada. “Somos uma família”, garante Claudiara. Sem fazer muitos planos, o grupo quer envelhecer com dignidade e, se possível, gravar um terceiro CD. “O terceiro poderia ser de serenatas, para lembrar das velhas namoradas”, declara Bartholomeu.