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Vendedor já recusou R$ 15 mil em um aparelho

A vida é cheia de som e fúria, mas para alguns a música deve vir acompanhada de um ritual que inclui toca-discos, caixas de som e amplificador. Há quase 25 anos, a loja Raridade Som, no Centro, abriga equipamentos que cativam e alimentam os sonhos de consumo desse público raro. E um dos guias desse templo é o gerente César Murilo dos Santos, 35 anos, que assim como seus clientes percebe o valor dos equipamentos que chegam e saem do estabelecimento. Alguns são vendidos com uma dose de lamentação por parte do funcionário, que admite: “dá dó de vender alguns aparelhos”.

Em casa, a relíquia escolhida por César é um modelo da marca Polyvox linha 5000. “Já me ofereceram R$ 15 mil pelo meu aparelho, mas não vendo por nada desse mundo”, avisa. Em compensação, ele compra. “Pago o preço que for porque é top de linha. Quem gosta de som e do romantismo dos aparelhos com tocador de disco sabe do que estou falando”, explica. Segundo ele, quando um modelo como esse chega à loja, em menos de três dias já é revendido, tamanho o fascínio dos apreciadores.

Outro equipamento que provoca suspiros na clientela é o tape deck de rolo GX 400D SS, da fabricante japonesa Akai, que o gerente exibe com orgulho na loja. “Tem um som incomparável e com a beleza de ainda usar fitas de rolo, que também dispomos na loja. Além disso, a marca é garantia de qualidade e durabilidade. Esse é um produto que a gente nem quer que saia”, derrete-se.

Felipe Rosa
Vinil vendido a R$ 30 nos sebos é comercializado por R$ 8.

O gerente não divulga o faturamento da loja, mas dá pistas sobre o funcionamento do mercado de usados. Com a onda vintage, as vendas cresceram, porém ficou mais difícil a reposição das peças porque menos pessoas querem se desfazer dos aparelhos antigos e, do outro lado, surgem negócios semelhantes, mas conduzidos por quem visa apenas o lucro. “Os oportunistas acabam bagunçando o mercado, pois tornambanal aquilo que é raro e não somos um segmento do tipo Casas Bahia”, aponta. A margem de lucro também é bem variável. Enquanto em alguns produtos os ganhos não passam de 5%, há outros que garantem mais de 100% do valor investido.

Embora o negócio seja focado nos aparelhos de som com tocadores de disco, há alguns rádios antigos, discos de vinil e CDs. “Muitos sebos vêm comprar de nós os discos porque os preços são bastante competitivos. O mesmo vinil vendido a R$ 30 nos sebos da cidade, aqui comercializamos por R$ 8”, conta.

De ônibus ou de carrão

O poder aquisitivo não é o que define o público da loja. “Já tivemos compradores que estacionaram com carros como Jaguar e Porsche e outros que desceram no terminal Guadalupe para comprar aqui”, afirma César. Muitas pessoas que nos anos 80 não tinham recursos para comprar um aparelho de som acabam procurando o local para realizar um sonho antigo.

Mas o local, na opinião de César, serve para reunir quem aprecia a música dentro de um ritual que exige espaço para todos os equipamentos e dispensa a praticidade em troca da poesia de pegar um disco de vinil, posicionar a agulha e se deleitar ao prazer de ouvir músicas de grandes artistas e bandas com os estalos característicos do tocador de som.

Àqueles que se privam desse hobby para não ser criticados pela família, o gerente defende que cada um batalhe por um lugar na residência que seja somente seu. “Hoje mesmo vendi um aparelho completo, que quase não coube no carro do comprador e o grande receio dele era como e,xplicar para a esposa. Digo a todos que precisamos de um espaço só nosso, o mundo de cada um e que os outros devem respeitar”, ensina.

Felipe Rosa
Tape deck de rolo da japonesa Akai arranca suspiros.
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