Caçadores descobrem um guardador de relíquias

Onze carroças abrigadas na chácara do empresário Armando Tulio, 67, localizada próxima ao centro de Santa Felicidade, guardam partes importantes da história da colonização do bairro e da cidade. O acervo já foi maior e chegou a 40 veículos, sendo o mais antigo de 1889, junto com outros que foram utilizados pelos colonos até meados da década de 1960.

A maioria das carroças foi vendida, mas isso não significa que a frota deixe de aumentar. Isto porque Tulio não resiste quando encontra uma carroça que está se deteriorando, em mau estado de conservação, o que vem se tornando comum entre famílias que deixaram de cuidar dos veículos utilizados por seus antepassados. O empresário chega a comprar as carroças e as leva para sua chácara, onde ele próprio faz todo o serviço de restauração. Assim, possui veículos raros de duas rodas, no estilo utilizado pelos colonos ainda na Itália, e também os modelos eslavos, com quatro rodas.

O interesse pelas relíquias começou quando Tulio acompanhava seu pai nas visitas aos colonos e ao observar a criação dos veículos ao lado de sua casa. “Naquele tempo não existia carro e as carroças eram o principal meio de transporte”, lembra. Os modelos variavam de acordo com a utilidade, como as carroças usadas para o trabalho na lavoura ou para o transporte de mantimentos – como carnes, ovos e leite -, e também as mais requintadas, que iam às ruas nos finais de semana, especialmente para levar as famílias à missa.

Histórica

Entre as muitas carroças que já passaram pela chácara de Tulio, uma tem um significado especial. A trole de 1889 foi utilizada assim que o colono Camilo Perussi chegou na região de Curitiba. Diz a história que ele também a utilizou para ir de Santa Felicidade ao centro da capital, de onde seguiu a pé até Santos, no litoral paulista, em viagem que durou um mês. Lá ele embarcou rumo à Itália, onde quitou uma dívida feita 20 anos antes, quando se mudou para o Brasil.

Allan Costa Pinto

Mais memórias

Não são apenas com as carroças centenárias que Armando Tulio resgata a história. Além de usar algumas carroças no trabalho da chácara, ele também investe em objetos antigos, espalhados pela sua propriedade, como galão de querosene, arados e um debulhador de milho.

Mas não para por aí. O empresário também recolhe objetos históricos que são descartados. Com isso montou a decoração de sua casa e de uma pequena capela. “É parte da nossa história. Fui guardando tudo que vai desaparecer com o tempo. Sou muito saudosista e dói ver as coisas sendo jogadas fora”.