Conscientização

Comportamento agressivo pode ser trágico no trânsito

Motoristas passam em média três horas do dia dentro do carro, tempo suficiente para muitas pessoas fazerem do veículo uma extensão da casa. Mesmo estando em um local público, a sensação de proteção que o veículo proporciona, aliada ao símbolo de status, fazem muitos condutores “perderem a cabeça” na direção.

Nas ruas, não é difícil perceber quantos furam o sinal vermelho, param na faixa de pedestres, buzinam sem razão. Comportamentos típicos de quem usa o veículo não somente para transporte, mas para deixar aflorar nervosismo e agressividade.

“Observamos que as pessoas tendem a mudar o comportamento dirigindo. Usam o veículo como se fosse uma arma, tanto para se defender quanto para atacar”, afirma a psicóloga Maria Sara de Lima Dias, coordenadora da Comissão de Trânsito do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP).

Para conscientizar os motoristas da importância da direção defensiva na Semana Nacional do Trânsito, o CRP realizará uma blitz educativa nesta sexta-feira (23). A ação acontecerá em dois dos cruzamentos com maior índice de acidentes em Curitiba: Avenida Victor Ferreira do Amaral com a Linha Verde, no Tarumã, e Avenida Sete de Setembro com a Rua João Negrão, no Centro.

A psicóloga explica que mesmo uma pessoa calma pode mudar o comportamento. Vários fatores podem desencadear essa reação, como o stress de alguma situação vivenciada no dia a dia, congestionamentos, e a sensação de competição gerada pelo trânsito.

Segundo ela, pesquisas mostram que, no motorista, há uma diminuição da percepção do risco. “A pessoa se comporta de maneira mais displicente e agressiva. O comportamento social é transformado”.

O culto à velocidade é outro fator que contribui para aumentar o perigo de colisões e atropelamentos, avalia o especialista em trânsito José Mario Fonseca de Andrade.

“Quando você vai comprar um carro dizem que é super seguro e atinge 200 quilômetros por hora. O carro pode ser seguro, mas o motorista também tem que ser. Além disso, um carro potente dificulta a percepção sobre a velocidade, o que cria um grande problema”.

Assumindo um caráter de poder na sociedade, o carro é visto como um símbolo de status. “O motorista se sente mais poderoso e para de perceber que o sistema de trânsito precisa ser democrático”, completa Maria.

Mesmo considerando importantes as campanhas educativas, Andrade acredita que essa educação precisa acontecer a longo prazo. “Temos que aprender sobre isso desde crianças. É muito complicado e complexo tratar do comportamento dos seres humanos, que são tão diferentes entre si”. O especialista diz que a melhor maneira de melhorar é cada um tomar consciência do seu papel no trânsito, tornando a convivência mais pacífica.

Psicotécnico

Hoje, o dispositivo para avaliar quem tem condições de dirigir é o teste psicotécnico, aplicado no processo para retirar a carteira de motorista. Mas, segundo a psicóloga, ele não garante segurança absoluta para identificar quem tem perfil agressivo. “O teste permite que o psicólogo tenha alguns parâmetros para avaliar o nível de atenção e de agressividade”.

Ela salienta que a entrevista também é importante para detectar o perfil de personalidade. Mesmo assim, Maria diz que ainda não há um instrumento totalmente confiável “até porque o comportamento humano pode mudar ao longo do tempo”, explica.