A partir de dezembro, o Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Matinhos, no litoral do Estado, corre o risco de não suportar a demanda de atendimento, que triplica durante a temporada de verão.
Contando os procedimentos da maternidade, da ala de pediatria e do pronto-socorro, a média diária de atendimentos passa de 300 para 900 na temporada. A população reclama da precariedade da estrutura do hospital. Faltam equipamentos, médicos, especialistas, ambulâncias e até medicamentos.
Em fevereiro, O Estado mostrou a precariedade do transporte de pacientes. Na ocasião, um ônibus escolar era usado para transferir pacientes para unidades de alta complexidade em Curitiba.
Na última semana, a reportagem esteve no local e constatou que o transporte dos pacientes em caso de urgência continua comprometido. De acordo com a enfermeira chefe do hospital, Ana Paula Carneiro, apenas uma das cinco ambulâncias está funcionando. “As outras ambulâncias estão na oficina há meses. A última quebrou há 60 dias”, reclama.
Além da falta de ambulâncias, o hospital enfrenta uma escassez de medicamentos. De acordo com o líder comunitário João Negrão, na semana passada o hospital dispunha de apenas dois litros de soro fisiológico. “Na terça-feira tinha apenas um rolo de esparadrapo. As enfermeiras estavam usando fita adesiva para fazer os curativos”, disse.
| Átila Alberti |
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| Ambulância quebrada (esq.). Edinéia (dir.): filha sem atendimento. |
Negrão também conta que, no último dia 19, não havia médico no hospital e três enfermeiros se revezavam para atender os pacientes. Ana Paula admite que o hospital ficou quase duas horas sem soro fisiológico no dia 21.
Segundo ela, o produto teria sido imediatamente reposto assim que constatada a falta. A enfermeira também confirma que o hospital ficou dois dias com apenas um clínico-geral.
De acordo com a administradora, o problema aconteceu porque alguns médicos tiveram seus contratos com a Prefeitura de Matinhos encerrados. Segundo ela, os profissionais de saúde não comunicaram ao hospital seus respectivos desligamentos profissionais. A chefe da instituição ressalta, no entanto, que dois médicos foram recém-contratados, elevando para três o número de clínicos no pronto-socorro.
Desde o último sábado, a reportagem de O Estado vinha tentando falar com o secretário de Saúde de Matinhos, Jéferson de Azevedo, para que ele comentasse sobre os problemas encontrados no hospital. Contudo, até a noite de ontem, não obteve sucesso.
Operação Verão é esperança
Com a filha de sete meses nos braços, Edinéia da Cruz Martins deu com a cara na porta do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Matinhos. No sábado passado, a menina, que sofria de bronquite, precisava ser internada para intensificar o tratamento. No entanto, o hospital não dispunha de qualquer médico pediatra. A frustração de Edinéia retrata o abandono do hospital pelo órgão gestor daquele estabelecimento.
O hospital deveria oferecer médicos especializados em ginecologia e pediatria. Contudo, a escassez de especialistas tem restringido esses atendimentos. Sem poder internar a filha, Edinéia precisou levar a menina para o Hospital de Paranaguá, há cerca de 20 quilômetros de onde estava.
Segundo a chefe do hospital, Ana Paula Carneiro, a expectativa é de que o estabelecimento passe a contar com um apoio do governo do Estado. “Com a Operação Verão, tivemos o dobro dos recursos de pessoal e de equipamentos na última temporada, em relação ao que temos hoje”, afirma.
Operação Verão
De acordo co,m Paulo Roberto Zanicotti, chefe da 1.ª Regional de Saúde, que abrange os sete municípios do litoral paranaense, o governo do Estado já vem planejando a reedição da Operação Verão.
Segundo Zanicotti, equipes da regional fizeram um levantamento da situação dos hospitais Nossa Senhora dos Navegantes e Santa Casa de Misericórdia, em Guaratuba.
“A regional deverá apresentar os relatórios para a Secretaria de Estado da Saúde, para que sejam melhor direcionados os recursos previstos para a Operação Verão”, afirma.
Para este ano, Zanicotti prevê o início da Operação Verão para o dia 19 de dezembro. Na temporada 2007/2008, a operação recebeu cerca de R$ 2 milhões, que foram aplicados na área da saúde.