Abadá gera controvérsias em Matinhos

Gerou polêmica no litoral a tentativa de aproximar o Carnaval de Matinhos ao da Bahia, com a inclusão do abadá – camiseta utilizada pelos blocos carnavalescos para separá-los dos demais foliões. De um lado, tem gente temendo que o local reservado para os pagantes à frente do trio elétrico, separado pelo cordão de isolamento, revolte os demais participantes; de outro, há quem acredite que a opção é inovadora e traz público diferenciado à festa. Na noite de ontem aconteceu o primeiro teste, com a passagem da Matimbanda.

Este ano o Carnaval em Matinhos foi organizado de forma diferente, pela iniciativa privada. Por isso, o formato também mudou, com inclusão de camarotes e uma área vip para quem quiser se movimentar junto com o trio. Para ter acesso a ambos, o folião deve comprar o abadá, camiseta com o layout do Carnaval vendida a R$ 100 por pessoa no camarote (que comporta 500 pessoas) e R$ 50 a área vip (100 vagas) para as duas noites de festa – ontem com a Matimbanda e hoje com a Caiobanda. Os organizadores justificam que, dessa forma, quem optou pela compra poderá dispor de um Carnaval mais seguro.

Mas nem todos concordam. O morador Michel Wolff, dono de uma imobiliária da cidade, questiona a segurança do sistema. ?Isso fará com que uma minoria fique mais próxima ao trio elétrico, deixando a maior parte do público de fora. Sou contrário à forma como está sendo feito; não temos estrutura como na Bahia para esse tipo de festa.? Além disso, segundo o corretor, responsável pelo Conselho Regional de Corretores de Imóveis, a mudança não alterou a procura pelo aluguel durante o período. ?Pelo contrário, estamos com ocupação menor que no ano passado, quando conseguimos locar 60% dos imóveis.? Até sexta-feira, a ocupação de imóveis locados não chegava a 40%.

O comerciante Carlos Dalberto Freire, da Associação Comercial de Matinhos, também desconfia do isolamento como algo benéfico no contexto do Carnaval da cidade. ?Vem gente de todos os cantos; pode ser que nem todo mundo entenda o novo formato. Não sei como isso vai funcionar porque acho difícil controlar a multidão. É quase impossível barrar 350 mil pessoas para reservar cem?, argumenta. Segundo o comerciante, a idéia de uma área vip não é ruim, desde que acoplada em um formato diferenciado. ?Só com um sambódromo, com direito a arquibancada e tudo?, pontua.

O casal Renato dos Santos e Elma Monteiro, que desceu a serra para ver a Caiobanda tocar, também desaprovou a idéia. ?É uma festa popular, não tem espaço para segregação?, diz Renato. Para ele, em Salvador é diferente: ?Lá é Carnaval o ano todo, eles têm estrutura para isso?. A esposa concorda. ?Se for para pagar prefiro ir para o clube. Na rua não pago, é pública.?

Favorável

Mas há também os favoráveis à novidade. O comerciante Stanislau Klepa Neto, de um restaurante de Matinhos, acha que o formato melhora o público do Carnaval. ?Atrai mais turistas, gente que procura novidade. Pode até ser que os efeitos não sejam sentidos ainda este ano, mas com certeza será um sucesso nos próximos?, estima. Da mesma forma pensa a bióloga Leila Silva, de Curitiba. Para ela, o abadá garante mais segurança a quem opta pelo Carnaval de rua. ?Não é barato, mas vale a tranqüilidade.?

O organizador do Carnaval de Matinhos, Nelson Cotovicz, nega que o abadá possa segregar o Carnaval. ?O cordão de isolamento sempre existiu. A diferença é que antes era só para convidados; agora, vai ser para todos aqueles que quiserem pagar para ter mais segurança e comodidade.?

Para quem vai continuar a festa no litoral, amanhã a folia é em Guaratuba, com a tradicional saída da Guaratubanda pela Avenida 29 de Abril.

Mocidade não desfila em Curitiba

Da Redação

Milhares de pessoas compareceram ontem à noite à Avenida Cândido de Abreu, no Centro Cívico, para assistir ao desfile da Liga das Escolas de Samba do Carnaval de Curitiba. O evento tinha a dura missão de desfazer a má imagem criada por uma confusão no ano passado, quando um quebra-quebra entre integrantes das escolas durante a apuração dos votos chegou a impedir a oficialização do resultado da vencedora por alguns dias. Além disso, uma das mais tradicionais escolas da cidade, a Mocidade Azul, não participou da festa devido a uma cisão interna de seus dirigentes.

Antes de começar o desfile, às 18h, os grupos especiais começaram a se apresentar. Quem abriu a festa foi o Bloco Derrepent, seguido pelo Rancho das Flores, o tradicional bloco da terceira idade. Este ano o grupo formado por foliões com idade entre 65 e 90 anos levou para a avenida o enredo ?Os 18 anos do Rancho das Flores?. Formado por 540 idosos, que desfilaram ao ritmo de uma marcha-rancho, todos com a mesma fantasia, de base branca com detalhes e adereços em plumas coloridas.

Depois foi a vez do Bloco da Diversidade, promovido pelo Grupo Dignidade – formado por gays, lésbicas e transgêneros -, entrar na avenida. Para debutar, o bloco contou com o apoio do carnavalesco carioca Márcio Marins, que trouxe a experiência de desfiles em grandes escolas do Rio de Janeiro.

Grupos

Só por volta das 19h30 a primeira escola pisou na avenida, a Escola de Samba Unidos do Bairro Alto, do grupo B, seguida da Escola Unidos de Pinhais. Por fim, Os Internautas, com o tema ?África, seus amores e seus tambores?, fecharam o desfile do grupo B.

A primeira escola do grupo A a entrar na avenida foi a recém-alçada Jesus Bom a Beça, logo depois das 22h. A Acadêmicos da Realeza veio na seqüência, com o enredo ?A Festa do comércio popular na feira da realeza?, com samba escolhido de autoria de Alex Souza e Márcio Mania. A última escola a desfilar foi a Embaixadores da Alegria, campeã do ano passado. Eles levaram para a avenida o enredo ?Ka, a erva sagrada?, que contou com 400 integrantes.

Depois do desfile, o público brincou no baile popular. A apuração dos votos do desfile acontece hoje, no Memorial de Curitiba.

Grupo fantasiado festeja pedalando

Elizangela Wroniski

Foto: Átila Alberti
Trajeto de cinco horas.

Um grupo de pessoas apaixonadas por ciclismo decidiu comemorar o Carnaval de um modo diferente. Fantasiados, esbanjando alegria, eles venceram os cerca de 91 quilômetros que separam Curitiba de Paranaguá de bicicleta. A descida, com paradas para descansar e apreciar a vista da Serra do Mar, deveria durar cerca de 5 horas.

O grupo de oito amigos já é acostumado a fazer longas viagens de bicicleta. Alguns carregam na bagagem a experiência de quem já foi para Minas Gerais e até para o Chile. A ida para Paranaguá deveria ser vencida com grande facilidade. No entanto, a viagem teria um gostinho diferente. Era a primeira que os amigos trocavam os uniformes por fantasias. ?É uma espécie de grito de Carnaval. Este foi o primeiro e queremos que continue nos próximos anos?, comenta Josman de Marchi Alves, um dos organizadores da empreitada.

Sidney Simões aceitou convite para participar e improvisou uma fantasia. Colocou uma espécie de chifre na cabeça e uma capa amarela, embora tenha reconhecido que o modelito atrapalharia um pouco o seu desempenho. ?O chifre é aerodinâmico, mas a capa acho que vou tirá-la nos primeiros quilômetros da viagem?, disse, antes da partida. Sidney pedala há 17 anos, começou pensando em emagrecer, mas depois gostou tanto que continuou a atividade, percorrendo grandes distâncias e não parou mais.

Sandra Joanides optou por uma produção mais simples: colocou uma camiseta de futebol. Mas a animação era a mesma do restante do grupo. Ela também é acostumada com viagens longas e em seu currículo carrega uma viagem pela Cordilheira dos Andes. ?Viajar de bicicleta é diferente. A gente se sensibiliza com tudo em volta. Vê coisas ruins e bacanas. Conhece as pessoas?, fala.

Eles saíram de Curitiba por volta das 8h30 e a previsão de chegada à Paranaguá era às 13h30. Josman comenta que a cada 20 quilômetros eles costumam parar para descansar e lanchar, além de aproveitar a bela vista da Serra do Mar.

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