São Miguel do Gostoso entra na onda do kitesurf

Localizado na chamada ?esquina do Brasil?, onde literalmente o vento faz a curva e o litoral corre paralelo à linha do Equador, o município de São Miguel do Gostoso, a 110 quilômetros de Natal (RN), reúne em seu litoral as maiores feras européias do kitesurf, a partir deste mês. O esporte é aquele em que a pessoa desliza no mar sobre uma pequena prancha de surfe, ao mesmo tempo em que é puxada por uma grande pipa. Nessa época do ano, turistas vindos da Europa para passar férias no Brasil aproveitam os ventos favoráveis, fortes e constantes para fazer acrobacias sobre o mar e, ao mesmo tempo, curtir o sol e as lindas paisagens da graciosa cidade de seis mil habitantes.

Segundo a secretária de Turismo de Gostoso, Nara Neri, a cidade vem atraindo também muitos kitesurfistas brasileiros e praticantes de windsurf. A Prefeitura local já pensa até em criar uma competição oficial de kitesurf em Gostoso.

O esporte tem sido um bom meio para promover os outros atrativos do município. O simpático vilarejo litorâneo reúne várias atrações para o turista que procura sossego e paisagens paradisíacas, sem abrir mão do conforto. A primeira coisa que chama atenção dos turistas é o nome. Por que Gostoso? A tentativa de descobrir o motivo incentiva o diálogo entre visitantes e moradores, que não recusam um dedo de prosa. As versões são as mais variadas, mas não há explicação definitiva – fato que não tem a menor importância, exceto manter aguçada a curiosidade dos turistas brasileiros e europeus que desfrutam dos inesquecíveis panoramas de Gostoso, como a chamam todos aqueles que aprenderam a amar a cidade que, até 1999, denominava-se São Miguel de Touros.

Praia de Tourinhos abriga um impressionante conjunto geológico de dunas petrificadas há 2,5 mil anos.

Os moradores mais antigos contam que a denominação foi inspirada em um morador que hospedava em sua casa caixeiros-viajantes que percorriam a região. Enquanto preparava as refeições, ele costumava contar histórias pontuadas por longas e gostosas gargalhadas, sendo então apelidado de ?Seu Gostoso?. Quando, em 1997, o então distrito de São Miguel emancipou-se do município de Touros, a população optou por acrescentar o curioso complemento ao santo homenageado.

Gostoso para morar

Para se apaixonar por Gostoso bastam poucas horas. Mar sempre azul, dunas muito brancas, ar puro, povo acolhedor e vento constante fazem a estada ser agradável em Gostoso. Muitos dos que foram para lá como turistas não quiseram mais voltar para a terra natal. É o caso da enfermeira suíça Ana Rabul, de 60 anos, que se apaixonou por Gostoso e lá fixou residência em 1990. Estudou a cultura local, as doenças mais comuns e como eram tratadas. Decidiu então arregaçar as mangas, passando a orientar a população sobre os cuidados com o tratamento do lixo doméstico para evitar a proliferação de bactérias e doenças. O trabalho de conscientização da população rendeu à enfermeira, que visitava casa por casa, o título de ?Ministra do Lixo da Ordem Praieira?. Graças a ela e aos seus mutirões de limpeza, há numerosas lixeiras estrategicamente colocadas nas ruas e junto às praias, que são muito limpas.

Mar azul, dunas, ar puro… isso é Gostoso

Fenômeno do ?suspiro da
baleia? chama a atenção
na Praia de Tourinhos.

São Miguel do Gostoso não faz parte da rota do turismo de massa. Não que não receba muitos turistas. É literalmente um cantinho do Brasil ainda pouco divulgado, que tem atraído principalmente amantes dos esportes náuticos e da natureza. O município tem as suas praias como principais atrativos turísticos, dentre elas estão Enseada das Baleias, Ponta do Santo Cristo, Tourinho e Praia do Marco.

Diante da Praia de Maceió, por exemplo, barcos de pesca se destacam na pequena baía, dando colorido especial à paisagem. Com uma boa conversa e um pouco de sorte, o turista que gosta de pescar poderá embarcar no pesqueiro e conhecer de perto como é a vida desses homens intrépidos que por vezes passam vários dias longe da terra.

Já a Praia de Tourinhos reúne um impressionante conjunto de dunas petrificadas há 2,5 mil anos. A visita aos bancos de corais é outro passeio que vale a pena ser feito quando a maré está baixa. Ali pode-se nadar à vontade, em segurança, e apreciar os coloridos corais por onde circulam peixes, estrelas-do-mar e outros espécimes marinhos. Para esse passeio é aconselhável levar um tênis surrado para evitar acidentes com ouriços do mar, máscara de mergulho e um bom protetor solar.

A Praia do Maceió é uma das
mais freqüentadas em Gostoso.

Outro ponto turístico é o Farol do Calcanhar, a 15 quilômetros do centro. Considerado o mais alto do Brasil, ele tem 62 metros de altura e é o marco zero da Rodovia BR-101. Na Praia de Santo Cristo, o turista que tiver interesse pode contratar aulas de kitesurf. Cada aula custa cerca de R$ 80 por hora e inclui o aluguel do equipamento.

Também merece uma visita o Distrito de Tábua. Ali, uma cooperativa local produz doces como caju-passa, rapadura de caju, além de licores de umbu, acerola e caju. Nas pousadas, pode-se saborear a verdadeira tapioca, espécie de panqueca feita com goma de mandioca e recheada com queijo coalho, um produto tipicamente nordestino.

Hospedagem

São Miguel do Gostoso tem várias opções de hospedagem, entre elas a Pousada dos Ponteiros, que é a mais charmosa da região e localiza-se na Praia de Maceió, uma das quatro que formam a Enseada das Baleias. Ela oferece oito chalés de frente para o mar ,que acomodam até quatro pessoas, e mais seis chalés recuados. A estrutura de lazer inclui piscinas para adultos e crianças. O café da manhã é farto, com grande variedade de frutas e sucos regionais. O restaurante da pousada, o Balica, é especializado em culinária típica do nordeste. Além disso, a pousada conta com um versátil salão de convivência que tanto pode ser utilizado para reuniões empresariais e pequenas convenções, como pode ser rapidamente transformado num espaço adequado para práticas alternativas – ioga, biodança e meditação, por exemplo.

Nome da cidade está em tudo

Quem visita Gostoso encontra tudo o que não existe mais em muitos dos velhos e tradicionais pólos turísticos à beira mar: sossego. Mas isso tudo tem seu preço: embora a cidade tenha um cybercafé, não tem nenhum caixa eletrônico – o mais próximo situa-se no município de Touros, a 30 quilômetros de distância. Telefone celular também não pega, para felicidade geral de quem está em busca de tranqüilidade.

Em São Miguel do Gostoso tudo é gostoso. Os habitantes poderiam se chamar gostosenses, mas se apresentam como ?gostosos?. Lá tem o mercadinho Hiper Gostoso, Farmácia Gostosa, Padaria Gostosa e uma culinária de dar água na boca.

Culinária típica

A cozinha potiguar mostra a forte influência dos portugueses, que aportaram por ali em 1501, da cultura indígena e pitadas de hábitos norte-americanos, essas últimas em razão da base militar instalada em Natal durante a Segunda Guerra Mundial. Para começar bem o dia, nada como um café da manhã farto. Algumas pousadas oferecem, além das frutas tropicais, sucos, pães e doces, pratos típicos como a tradicional tapioca feita de massa de mandioca ou o cuscuz de milho regado ao leite, acompanhado de lingüiça frita.

A ampla oferta de lagostas, peixes e camarões a preços convidativos durante boa parte do ano faz dos restaurantes de Gostoso a alegria dos visitantes. Os frutos do mar são preparados com ingredientes típicos da culinária potiguar como macaxeira (mandioca), manga, caju e queijo coalho.

Para quem não aprecia pescados é sempre possível optar por pratos igualmente saborosos e pitorescos, como o sarapatel (miúdos de porco cozidos no sangue do animal e temperados com muita pimenta e outros condimentos); e a carne de sol com jerimum, batata doce e macaxeira – no seu preparo entram também coentro e manteiga de garrafa. Quem não gosta de coentro pode pedir à cozinheira que não use o condimento, que é marca registrada do nordeste. Ela pode até achar meio esquisito e, como diz o samba, que você não é bom sujeito, mas fará o seu gosto. Afinal, o lema em Gostoso é fazer tudo gostoso.

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