Presídio do Ahu será aberto à visitação pública

Corredores vazios e silêncio. Dentro das celas, apenas os pertences que não puderam ser levados pelos 900 presos retirados da antiga Prisão Provisória de Curitiba (PPC), mais conhecida como presídio do Ahu, e que, depois de cem anos, foi finalmente desativada esta semana para dar lugar ao Centro Judiciário de Curitiba. Nas paredes, as fotos de revistas, passatempo dos detentos. As televisões também ficaram. Junto com as roupas devem ser resgatadas pelos familiares antes que o prédio histórico passe por uma limpeza e aguarde as reformas previstas para o início do ano que vem. Até lá, a PPC será aberta à visitação pública.

Ontem, pela primeira vez, o acesso foi restrito à imprensa, que pôde conferir a história impressa nas paredes do presídio. Os pertences dos presos eram detalhes à parte. O cheiro, desagradável, denunciava a falta de higiene, comum a muitas prisões brasileiras. No chuveiro improvisado, feito com garrafa pet cortada, água quente para tomar banho. Verdadeiras engenhocas para tentar melhorar a vida no cárcere.

Cenário de rebeliões desde a década de 30, os corredores da PPC ainda guardam o peso das revoltas que circularam por ali. A última delas aconteceu há seis anos, quando mais de 200 detentos se rebelaram, retendo guardas e assassinando três presos. Desde então, afirma o diretor Adib Tuffi Júnior, o clima andava tranqüilo no local. "Não teve mais nada grave depois daquela rebelião, nem mesmo brigas ou agressões", conta. O motivo, atesta, é que os presos andavam bastante ocupados nos últimos tempos. "Todos os 900 presos tinham uma cama. Destes, 600 trabalhavam o dia todo em setores internos e 350 estudavam. Se mantinham ocupados e, com isso, a tranqüilidade era grande."

Segundo Tuffi Júnior, os presos continuarão suas atividades no Centro de Detenção e Ressocialização de Piraquara (CDR), para onde todos os 800 condenados foram transferidos. Os cem restantes, presos provisórios, foram para a Casa de Custódia de Curitiba (CCC). Depois de reformado, o prédio que abrigava os detentos se transformará em uma espécie de porta de entrada para o Centro Judiciário passando a conter lanchonetes e cafés, além de pequenas lojas. O último andar, no entanto, será preservado tal como é hoje: um corredor de celas e grades em forma de museu.

Visitação

O secretário de Estado de Obras Públicas, Luiz Caron, diz que a população também vai poder conhecer o presídio. "A partir da segunda quinzena de agosto, a secretaria vai instalar um escritório no local e promover as visitas", informa. Já o Departamento Penitenciário do Estado (Depen), que funcionava no local, deve continuar lá por enquanto, até que comecem as obras. Depois, mudará para uma nova sede, junto ao complexo penitenciário de Piraquara. O coordenador Honório Olavo Bortolini afirma que esvaziar o complexo foi uma experiência marcante. "Funcionários antigos, que trabalhavam aqui há 25, 30 anos, chegaram a chorar."

Centro Judiciário

O Centro Judiciário de Curitiba, que será construído na área abrangida pelo presídio desativado, manterá em pé apenas o prédio onde os presos ficavam, instalado no local desde 1905. A estrutura construída no entorno do bloco abrigará 91 varas especializadas, de 1.ª instância, e dez supervisões de juizados especiais. O complexo, que terá 170 mil metros quadrados, permitirá unir em um só local varas de família, cível e criminal, que atualmente funcionam em 16 prédios diferentes. Também terá como diferencial entradas restritas aos réus, que não cruzarão com juízes e testemunhas. A previsão da Secretaria de Obras é concluir o centro até 2010. 

Voltar ao topo