Reaproveitamento do lixo orgânico pode ser lucrativo

Com o crescimento da população, e conseqüentemente da produção de lixo, o iminente esgotamento da capacidade dos aterros sanitários, a dificuldade em se encontrar novas áreas para que possam ser depositados os resíduos e a preocupação mundial com o destino do lixo vem crescendo a cada ano. Mas uma idéia que surgiu na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, e que já está sendo praticada em alguns municípios paranaenses, pode ajudar a amenizar esse problema.

Para o Phd João Tinoco Pereira Neto, autor do projeto, não são só os materiais recicláveis – plástico, papel, vidro, metal, etc – devem ser reaproveitados. O material orgânico – folhas, restos de alimentos -, que corresponde a mais da metade do lixo produzido no Brasil, também pode ser reutilizado, desafogando os aterros sanitários e dando mais um incremento à economia dos municípios.

O lixo orgânico, devido ao seu enorme potencial biológico, se submetido ao tratamento adequado, torna-se um poderoso fertilizante. Com um trabalho, até certo ponto simples, é possível se reaproveitar 50% do lixo orgânico na fabricação de um composto para ser utilizado na agricultura, como adubo.

Um projeto para reaproveitamento e compostagem do lixo para uma cidade que tenha até 20 mil habitantes, como a maioria dos municípios paranaenses, fica em torno de R$ 100 mil e, segundo o engenheiro, resolveria o problema do lixo por cerca de 20 anos. O Laboratório de Engenharia Sanitária e Ambiental (Lesa) da UFV, em um convênio com o governo de Minas Gerais, já implantou centenas de projetos em municípios de população média.

O exemplo bem-sucedido das cidades mineiras motivou a Prefeitura de General Carneiro, na região Sul do Paraná, a traçar no ano passado uma parceria com a UFV. Com o apoio técnico da universidade, o município construiu sua Unidade de Triagem e Compostagem com Aterro de Rejeitos e está conseguindo reaproveitar mais de 75% do lixo produzido na cidade.

O procurador do Ministério Público e coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente do Paraná, Saint-Clair Honorato dos Santos, ficou bastante satisfeito com o que encontrou em General Carneiro e passou a incentivar a aplicação do projeto nos demais municípios do Paraná. "O projeto é uma das soluções mais viáveis para o saneamento dos aterros sanitários. É um mecanismo de desenvolvimento limpo", comentou.

Bocaiúva do Sul vai inaugurar unidade

Já autorizada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP), a próxima unidade de reciclagem e compostagem no Estado já tem data para ser inaugurada: 10 de maio. Com a unidade, a Prefeitura de Bocaiúva do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), pretende dar início ao programa Lixo Zero, que tem a ambição de acabar com os resíduos levados diariamente para o aterro da Caximba, em Curitiba.

Nos moldes da unidade de General Carneiro e com o apoio do procurador Saint-Clair, o projeto de Bocaiúva também será capaz de produzir o mínimo de rejeitos, que será depositado em um aterro da própria unidade.

"Só alcançaremos esse objetivo se tivermos o envolvimento de toda a população, que terá de separar o lixo em suas casas", explicou a prefeita Lindiara Santana Santos Berti, que realizará, no dia 10 de maio, o Fórum Municipal do Lixo Zero, para explicar aos moradores como funcionará o programa e mostrar-lhes a importância da participação de todos, que serão instruídos a separar o material orgânico do reciclável.

Além dos benefícios econômicos diretos, não haverá mais gastos com o transporte do lixo para Curitiba e ainda transformará os resíduos em uma nova fonte de renda. A prefeita acredita que o maior lucro será na promoção da educação ambiental dos cidadãos de Bocaiúva. "A população irá aprender a importância de separar o lixo, vai ajudar na preservação de nossos mananciais e deixar uma bela herança para as gerações futuras", disse. (RP)

Parceria rendeu UTC em General Carneiro

Preocupada com o acúmulo de lixo no depósito da cidade, a Prefeitura de General Carneiro, antes de buscar uma solução, realizou uma pesquisa para averiguar as características da produção de resíduos no município. Tal pesquisa constatou que apenas 19,04% do lixo urbano da cidade era composto por materiais recicláveis e a grande maioria, 65,39%, era material orgânico.

Segundo estimativa da Prefeitura, com uma produção diária de aproximadamente 4,5 toledas de lixo por dia e reciclando apenas 19% desse total, General Carneiro precisaria de uma área de 7,6 hectares para armazenar o lixo dos próximos cinco anos. Mas se o material orgânico também passasse a ser reaproveitado, apenas 1,6 hectares seriam necessários para o mesmo período. Para resolver de uma vez o problema do lixo na cidade, buscou-se a parceira com a UFV e foi criada, no final do ano passado, a Unidade de Triagem e Compostagem (UTC), com aterro de rejeitos. "É um sistema de tratamento, não só de destinação final", destacou o engenheiro Clewerson Cezar Masnik, responsável pela implantação do projeto no município.

Com uma área total de 4 hectares, a UTC está preparada para separar material reciclável, orgânico e rejeitos, dar o destino correto para cada um deles, seja a reciclagem, a compostagem, ou o depósito no aterro, por, pelo menos, 20 anos, conseguindo fazer a reintegração ambiental de 76,16% dos resíduos sólidos urbanos de General Carneiro. Além de acabar com a necessidade de um "lixão" no município, ser benéfico à saúde pública e ao meio ambiente e ser economicamente viável, a UTC ainda traz um benefício social: foi criada uma cooperativa de catadores, que trabalham na unidade e, além do salário, ainda têm direito a parte do lucro com a venda do material produzido. (RP)

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