ONU classifica 2010 como ano da biodiversidade

"2010 será o ano mundial da biodiversidade." Essa afirmação do secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), das Organizações das Nações Unidas (ONU), Ahmed Djoghlaf, durante o encerramento na sexta-feira da 8.ª Conferência das Partes da CDB (COP8), em Pinhais, poderia ser apenas o anúncio de mais uma data simbólica, criada sem nenhum compromisso. Mas com a quantidade de decisões importantes que as partes da convenção deixaram para tomar na COP10, 2010 passa a ser sim um ano fundamental para os interesses referentes à biodiversidade do planeta.

Durante a 3.ª Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP3), que antecedeu a COP8, já havia sido estabelecido 2010 como ano limite para que os países apliquem a rotulagem aos produtos que contiverem organismos vivos modificados (OVMs), os chamados transgênicos. Nas duas últimas semanas, 2010 também foi a data mais citada por todas as delegações.

Neste ano, os países deverão ter alcançado a Meta de 2010. Compromisso assumido em 2002, em que as partes deverão reduzir significativamente a taxa de perda de biodiversidade nos níveis global, regional e nacional, com uma contribuição para a erradicação da pobreza e para o benefício maior de toda a vida na Terra.

E também ficou para 2010 o assunto mais polêmico de toda a COP8. Depois de duas semanas de intensos debates, não se chegou a um consenso sobre a implantação de um regimeinternacional de acesso e repartição de benefícios, gerados a partir de recursos genético ou do conhecimento tradicional de determinada região, e a elaboração de um texto final para sua implementação será na COP10. Apesar de não se chegar a um texto final, o que já era esperado antes mesmo do início dessa conferência, o estabelecimento de uma data já foi considerado um grande avanço por todos os participantes. "Esse assunto vinha sendo protelado nas últimas reuniões. Só o fato de ter sido dada uma data já é uma vitória. Agora temos um documento concreto (texto elaborado pelas partes em fevereiro, que será usado como referência para a criação do regime). É a primeira vez que se sinaliza que teremos um regime", destacou o secretário nacional de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.

Com esse encaminhamento da questão da repartição de benefícios e as demais decisões tomadas durante a conferência, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, fez uma avaliação positiva da COP8. "Estamos saindo daqui com 30 decisões. Todas substanciais e muitas delas conseguidas devido à firme posição do Brasil, como a manutenção da moratória às sementes terminator e o encaminhamento do caso das árvores trangênicas ao órgão técnico da CDB", analisou.

Entre outras decisões da plenária da COP8 destacam-se: a discussão sobre agrobiodiversidade, já que, pela primeira vez, tornou-se explícita a relação entre biodiversidade, alimentação, solo e técnicas de restrição; as iniciativas globais de taxonomia – houve um comprometimento dos países ricos em investirem em pesquisas para a identificação de novas espécies; a elaboração de um plano de ação para o controle das espécies invasoras; e a decisão de recomendar à Secretaria Geral da ONU a determinação de uma moratória à pesca de arrasto em grandes profundidades. "O Brasil deu uma nova vida e credibilidade às discussões. Esperamos que o espírito de Curitiba contagie e esteja presente nas próximas reuniões da CDB", comentou Djoghlaf.

Meta de 2010 foi endossada por chefes de Estado e governo

Em 2002, durante a COP6 que foi realizada em Cuba, os países reconheceram que a taxa de perda de biodiversidade era a mais alta de todos os tempos e assumiram o compromisso de adotarem medidas práticas para reduzi-la até 2010. Assim foi criado um plano estratégico, chamado Meta de 2010, endossado pelos chefes de Estado e de governo durante a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável.

Dividido em 11 grandes metas, o plano tem objetivos e perspectivas de resultados a serem cumpridos até o ano de 2010. E é a avaliação dos progressos alcançados até agora que tem preocupado as partes os ambientalistas. "Embora muitos países tenham tomado ações enérgicas nesse sentido, sem as quais o quadro seria pior, agora, faltando apenas quatro anos para o final do prazo, ainda há muito a se fazer", avaliou a ministra Marina Silva. "Os governos têm em mãos ferramentas necessárias para reverter a perda de biodiversidade. Está faltando um pouco de vontade política", concluiu.

Para o secretário Ahmed Djoghlaf, "é ambicioso, mas vital atingir esse plano estratégico. Chegou a hora de cooperar e colaborar. O desafio é envolver todos os setores no combate à perda de biodiversidade. Desde a pecuária à silvicultura, da agricultura à indústria, do planeamento ao comércio".

Voluntários contam fatos interessantes dos forasteiros

Três semanas de eventos da Organização das Nações Unidas (ONU) em Curitiba e mais de seis mil estrangeiros circularam pelas cidades, expondo seus mais diversos costumes, línguas e muitas histórias. E ninguém tem mais histórias para contar que os voluntários que trabalharam durante esse período, orientando, ajudando e ouvindo todo esse pessoal que não tinha a mínima noção de o que era a capital paranaense. Um grupo de busers, voluntários que trabalharam nas estações tubo e nos ônibus especiais para o evento, contou algumas das aventuras que tiveram durante essas três semanas em que Curitiba foi a capital mundial da biodiversidade.

A prova de que a maioria desse pessoal tinha pouco conhecimento sobre o Brasil e, principalmente sobre Curitiba, foi dada pelo buser Gabriel Ferreira Simões, que disse que uma dinamarquesa consultou os voluntários para saber qual dos ônibus ia para a Amazônia. Outra prova foi dada pelas voluntárias Laila Puppi e Fernanda dos Santos Raimundo. "Um senhor das Filipinas queria que nós o levássemos num samba, e ficou surpreso ao saber que em Curitiba não se tem esse costume", comentaram.

Fernanda Nycia, que acompanhou um mexicano por toda a cidade em busca de um berimbau, contou que um japonês se perdeu no Sítio Cercado. "Ele queria ir de ônibus para o hotel: um voluntário disse para ele pegar o biarticulado, mas acho que não especificou qual. Uma hora depois um fiscal da Urbs entrou em contato com a gente dizendo que tinha um japonês, com crachá do evento, perdido no terminal de lá." Ela também contou que um rapaz do Egito ofereceu 100 camelos para levar uma das voluntárias embora.

Com essas e muitas outras histórias pitorescas, os voluntários, que tiveram seu trabalho elogiado por todas as delegações que participaram do evento, também fizeram uma avaliação positiva da passagem das delegações por Curitiba. "Treinei meu inglês, conheci muita gente diferente, culturas que nunca imaginei ter contato, fiz novos amigos e participei de um evento histórico", destacou Elton Reis Monezi.

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