A menina de Quinn, sete anos depois

Na praia de Pontal do Paraná, onde funcionava a antiga travessia para a Ilha do Mel, está a Peixaria da Doca. Vendendo cerca de cem quilos de peixe e camarão por dia, a banca de Maria Rosa da Costa – Doca, como é conhecida por clientes e amigos – é um sucesso. ?Essa banca toda a vida foi assim, porque tem uma vendedora das boas. Sou eu que faço a diferença aqui e sempre vendemos bastante?, conta orgulhosa.

Separada há mais de 20 anos, Doca criou sozinha cinco filhos – dois homens e três mulheres -, que trabalham com ela. Guerreira, a peixeira sempre teve um ídolo no cinema norte-americano. Dos filmes antigos de faroeste, aos quais ela assistia, passou a ter verdadeira adoração por Anthony Quinn. No dia-a-dia, Doca nunca imaginava a surpresa que a esperaria em 1999. Hoje, sete anos depois, ela conta que jamais esquecerá o que viveu.

?Era um espetáculo. Passei o tempo todo passeando, mas o que gostei mais foi ficar na casa dele. O importante era ele. Sempre via ele nos faroestões que fazia e, de repente, eu estava lá, junto com ele, saindo para jantar e tomando sorvete todas as noites, e ele ainda me chamava de madame. Toda hora eu vivo aquele momento. Ninguém o tira de mim?, lembra-se Doca.

O momento ao qual se refere foi quando Anthony Quinn esteve no Brasil e foi filmar Oriundi, em Pontal do Paraná. Sabendo da passagem do ator pelo município, Doca apressou-se e foi com a filha, também Maria Rosa, na época com 11 anos de idade, a um restaurante para tentar conseguir o autógrafo de Quinn. Quando chegaram até o ator, ele se virou e, vendo a pequena Maria Rosa, ficou paralisado, segurando a mão da criança até quando pôde. ?Ele falou que ela era a reencarnação de um grande amor da vida dele e diz que queria que ela fosse embora com ele. Eu não acredito em reencarnação, mas se ele acreditava, temos que respeitar?, conta Doca.

?A menina de Quinn?

Hoje com 18 anos, Maria Rosa, a filha, conta que a partir daquele dia a vida dela mudou. Foi assustador para uma criança. ?Ele não queria soltar da minha mão. Eu fiquei só olhando. Era uma criança e estava lá para conseguir ver a Gabriela Duarte, que também estava filmando. Eu não conhecia Quinn. Ele disse, em portunhol, que queria me levar embora e fazer de mim uma atriz de cinema. Falei na hora que não queria, ele insistiu. Mesmo depois que foi embora, me ligou durante dois meses seguidos. Até que em outubro eu fui para lá (Boston) com minha mãe?, lembra-se Maria.

Apesar de o ator ter feito de tudo para que a menina ficasse nos EUA, ela não concordou. Com oferta de escola, professor particular e tudo de bom, além da boa companhia do ator, que as duas mulheres contam que era maravilhosa, Maria Rosa não quis ficar. Voltou a Pontal em quinze dias. No Brasil, desde aquela data, Maria Rosa é a ?menina de Anthony Quinn?. ?Eu tive medo de que minha mãe me deixasse lá e voltasse. Mesmo depois que decidi vir embora, ele continuava me ligando. Sempre nos falávamos: ele ainda queria que eu fosse. Eu acho que não perdi nada quando voltei. Eu sou muito família: não penso em deixar meus pais e meus irmãos?, conta.

Universitária está na mira de revistas masculinas

A morte do ator, em junho de 2001, causou um impacto em mãe e filha. ?Fiquei triste. Senti a falta dele. Ele era uma pessoa muito boa?, comenta Maria Rosa, a mãe. Doca sentiu também a perda de um grande ator. ?Eu fiquei com pena porque o mundo inteiro perdeu Anthony Quinn?, diz.

Hoje, a filha de Doca já está no segundo ano da faculdade de Administração. Sentindo-se uma menina ?comum?, ela acorda às 7h30 e, logo de manhã, ajuda a mãe na peixaria. ?Faço de tudo: atendo cliente e limpo camarão. Enfim, faço serviço de peixaria?, diz Maria Rosa, que parece gostar do que faz. Somente depois do serviço é que ela vai estudar. ?Eu me sinto como qualquer garota e vivo cada dia de uma vez. Não penso no que vou fazer no futuro?, afirma a garota, que não sabe se quer ser atriz, mas sabe que não quer jamais morar fora do País.

Fama

Aos 11 anos, Maria Rosa reclamava do assédio da imprensa de todos os seguimentos. ?Todas as revistas, jornais e TVs me procuravam. Antes eu não gostava, mas hoje me acostumei?, diz. Ao contrário de há sete anos, atualmente ela adora ser fotografada. Acompanhada de uma empresária, a ?menina de Anthony Quinn? já está até na mira das revistas masculinas VIP, Playboy e Sexy. A proposta oficial ainda não apareceu, mas já houve contato e ela parece ter gostado. ?Depende do nu. Quero que seja um nu delicado. Vai ter que ser conversadinho?, diz.

Porém, antes que isso aconteça, Maria Rosa precisará convencer Doca. ?Isso aí é para se pensar. Não é fácil. Além disso, sou evangélica. Tem que pensar muito. Ela tem só dezoito anos. Ela é muito nova ainda?, diz a mãe, olhando séria, mas carinhosamente, para a filha famosa. (NF)

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