Atitudes na Copa não simbolizam patriotismo

A cada quatro anos o brasileiro tem despertada a vontade de usar verde e amarelo. O amor pelo País, refletido na disposição que os torcedores têm em se enfeitar para acompanhar os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo, pode, ou não, ser chamado de patriotismo.

Para o coordenador do curso de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR), professor Dennison de Oliveira, essas manifestações não passam de um orgulho nacional, um pré-requisito para o patriotismo. Ele explicou que encara as manifestações em favor do selecionado brasileiro como positivas. “O lamentável é que não aconteçam manifestações do gênero em outros eventos”, afirmou, destacando que a Copa do Mundo também é boa para divulgar os hinos pátrios.

Oliveira explicou que a manifestação de amor ao País acontece principalmente em época de Copa do Mundo, porque os governos, com suas atitudes, acabam desestimulando a população. “Os governos acabam passando ao povo uma imagem errônea, de que ele é atrasado. Exemplos disso são as declarações de Collor, que chamou a produção nacional de automóveis de carroças, e de FHC, ao dizer que o povo brasileiro é vagabundo”, explicou Oliveira, destacando que o culto aos símbolos brasileiros foi, infeliz e erroneamente, associado ao autoritarismo político durante o período de ditadura militar.

A pedagoga e integrante da Comissão de Direitos da Infância e Juventude da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Chloris Casagrande Justen afirmou que o brasileiro é um povo patriota. Para ela, as manifestações de amor à pátria simbolizam civismo, manifestado desde criança.

Chloris acredita que, o complemento desse civismo é a cidadania, adquirida durante a idade adulta. “A cidadania plena só é adquirida com a educação. Talvez isso seja um ponto falho em nosso País”, afirmou. Todavia, ela disse que o brasileiro é um povo mais patriota que o norte-americano. “Embora eles sejam acostumados a mostrar seus símbolos, nós sabemos honrar mais nossa nação. Demonstração disso é a harmonia com que convivemos com todos os povos”, concluiu.

Sou patriota

Quem passa pela Rua XV de Novembro, no centro de Curitiba, pode facilmente verificar pessoas vestindo roupas com as cores verde e amarelo. A empolgação pela classificação da seleção brasileira à final da Copa do Mundo realçou esse patriotismo. Mesmo muitos não sabendo cantar o Hino Nacional, quando questionados, todos são diretos em dizer que são patriotas.

O casal Paulo Sérgio e Roseane Mattos fez questão de colocar a camisa da seleção até na filha Jaqueline. “Mesmo com todos os problemas e, independente da Copa, temos sempre que honrar nosso País”, afirmou o porteiro Paulo Sérgio.

Para a doméstica Edna Fernandes Souza Santos, o brasileiro deveria usar verde e amarelo em outras oportunidades também. Quanto ao Hino Nacional, Edna é meio titubeante. “Sei mais ou menos, mas me considero patriota”, afirmou.

O carrinheiro Geraldo Gonçalves da Silva pendurou bexigas verdes e amarelas em seu carrinho. Dizendo não gostar tanto de futebol, ele afirmou ser muito patriota. “Está no sangue o amor pelo País”, declarou. Mas cantar o Hino Nacional? “Meia-boca”, respondeu, destacando que confunde estrofes da canção.

Alemães contrários

Joseane Martins

Os adversários do Brasil nesta final de Copa do Mundo simpatizam com a nossa terra e povo. Pelo menos é isso que demonstram alguns dos alemães que estão em Curitiba. Mas na hora de torcer, não há dúvida que preferem a Alemanha.

“Vai ser uma situação difícil, pois também vou ficar triste se o Brasil perder. Assisti todos os jogos do Brasil e sempre estava torcendo para ele”, revelou o alemão Matthias Lamdthaler, de 26 anos. A primeira vez que Matthias veio para o Brasil, no fim de 1999, foi por meio de um intercâmbio na Universidade Federal do Paraná (UFPR), na área de Turismo. Naquela época, ele ficou na capital por quatro meses. Depois retornou para a Alemanha para terminar a universidade, o que aconteceu em 2001. Logo, porém, encontrou outro pretexto, um casamento de um amigo no início deste ano, para voltar ao Brasil. E desde então, vem renovando o visto de turista. “Quero encontrar um trabalho para ficar por aqui”, conta. Formado em Administração, com especialidade em Turismo, Matthias ao longo desses anos cultivou laços profundos com o Brasil, em especial com a capital paranaense. “Aqui há mais qualidade de vida e as pessoas são mais alegres e abertas”, justifica.Há nove meses, ele domina o idioma. Se depender dele, por enquanto, não pensa em retornar para a Alemanha. Apesar de torcer para a seleção alemã, Matthias diz que vai ficar feliz se o Brasil ganhar. Como vai estar com amigos brasileiros, também vai festejar muito.

Outro alemão que está há seis meses em Curitiba e pensa em ficar por mais um tempo é o estudante Philip Stiegel, 24, também formado em Administração. “Vim por causa da namorada, que conheci num intercâmbio na Alemanha”, conta. Se conseguir renovar o visto de estudante, ele pretende, pelo menos, ficar até o fim do ano. Para ele, a capital tem ares europeus. Embora admire a modernidade, ainda estranha muito o frio. Tanto que se fosse escolher uma cidade brasileira para morar, sua primeira opção seria Florianópolis. Para poder ficar no Brasil, Philip também espera conseguir um emprego, de preferência em uma das multinacionais alemãs. E, como última opção, quem sabe, casar-se.

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