Há 30 anos, Curitiba ficou branca de neve

Magia. Mistério. Lembranças. Alegria. O dia 17 de julho de 1975 ficou na memória dos curitibanos e visitantes. Até hoje, passados 30 anos, o ?dia da neve?, ou seja, o dia em que nevou pela última vez, é lembrado por motivos diversos e bem pessoais.

No dia que nevou na capital paranaense, Cláudio Seto, de 60 anos, estava de passagem a caminho do Rio Grande do Sul, quando resolveu passar a noite em Curitiba. ?Meu avô e os irmãos vieram na primeira leva de imigrantes ao Brasil. Um dos meus tios-avôs trazia uma espada de família e desapareceu em 1909, em Curitiba. A espada ficou desaparecida por anos, até que durante a guerra acharam a espada no interior do Estado. Quando eu vim de São Paulo para cá, fui buscar a espada que um senhor tinha guardado por 30 anos. Quando ele me entregou, disse que eu não sacasse a espada, pois se eu o fizesse ou eu teria de matar alguém ou algo aconteceria, de bom ou ruim. Cheguei aqui no dia 16 de julho, em 75, e, na manhã seguinte, levantei, não resisti e puxei a espada, quando eu olhei pela janela enxerguei a Praça Rui Barbosa toda branca, estava nevando por aqui?, conta Seto.

?Curitiba branca de neve?, essa foi a manchete de O Estado, no dia 18 de julho de 1975. As belas palavras também complementavam a página, na legenda da foto, tirada na Rua Manoel Ribas. ?Como que um toque de mágica, vindo do céu, o curitibano virou criança, descobrindo a alegria das coisas feitas de maneira espontânea, franca. Sorridentes homens, mulheres e crianças saíram às ruas atendendo ao inesperado chamado da neve que caía como uma chuva de felicidade. A cidade parou. Feliz.?

O autor explica de onde veio tanta inspiração. ?Essa manchete para o jornal foi um grande marco. Houve muita referência a ela em vários outros jornais. A manchete original era ?Paraná branco de neve?, porque não foi somente em Curitiba que nevou, mas queríamos a palavra no feminino, para trazer lembranças da figura de Branca de Neve e todas as lembranças que se tem. Resolvemos centralizar em Curitiba e ficou ?Curitiba branca de neve??, explica o jornalista Mussa José Assis.

Do dia 17 de julho de 1975, o meteorologista Oswaldo Iwamoto, 61 anos, lembra do tanto que trabalhou e do tempo que não teve para tirar sequer uma foto. ?Foi tão inusitado que os repórteres começaram a ligar sem parar?, afirma Iwamoto, que conta que mais frio que o dia que nevou foi o dia seguinte, quando os termômetros chegaram a marcar 5,2 graus negativos.

O cardiologista Lázaro Garcia, por sua vez, lembra do Dia da Neve porque este foi também o dia de seu casamento com Carmem Vieira Moura, às 19h, na igreja Santa Terezinha.

Fenômeno contrariou previsões

O meteorologista do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), Cezar Duquia, explica que para nevar é preciso que fatores como frio intenso em baixos níveis, muita umidade e posicionamento das massas de ar devem estar aliados, o que aconteceu em 1928 e em 1975. ?Em 1975 não tínhamos nada disso. Eu resgatei algumas cartas da época e não havia nenhuma previsão de neve. Havia pouco recurso de satélite e os recursos computacionais não existiam. Em horários, pré-definidos, se fazia a leitura, anotava manualmente e passava isso por telefone. No dia eles tinham sinais do resfriamento, mas não tinham noção do frio que vinha. Foram surpreendidos com a neve, por falta de informação?, afirma o meteorologista.

Atualmente, as informações são coletadas via satélite e os recursos são bem mais fartos. Mesmo em chances pequenas, existe a possibilidade de nevar novamente. ?Geralmente quando a frente fria passa por aqui o frio vem um pouco retardado. Na semana retrasada até havia um posicionamento ideal das massas, mas faltou outros requisitos, não estava frio suficiente?, afirma.

Enquanto muita gente, há 30 anos, espera para ver a neve caindo novamente em Curitiba, alguns são bastante realistas. ?Posso adiantar aqui: 110% de certeza de que não neva mais em Curitiba por causa da poluição do homem, a indústria, o efeito estufa, que aqueceu de tal forma a nossa região que não há essa possibilidade?, afirma o meteorologista aposentado Oswaldo Iwamoto. (NF)

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