Violência amedronta usuários do transporte coletivo

Quem precisa utilizar a Rede Integrada de Transporte (RIT) à noite, em Curitiba e Região Metropolitana, sabe que está exposto à violência. Além do medo de assaltos, motoristas, cobradores e passageiros convivem com a apreensão de serem vítimas do vandalismo, muitas vezes gratuito, de gangues e desocupados.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores (Sindimoc), Denilson Pires, o problema das depredações e insegurança dos passageiros à noite tem aumentado. "A situação chegou num ponto que os motoristas têm medo de fazer certas linhas. Às vezes, quando dá, alguns desviam o caminho, deixando de passar por algumas ruas para evitar pedradas. Outros até apagam as luzes do carro para despistarem os vândalos", afirma Pires.

De acordo com dados do Sindimoc, o problema é mais acentuado no Cajuru, nas imediações da Vila Oficinas; na CIC, nas proximidades do Sabará e Vila Verde; e no Sítio Cercado, na região do Bairro Novo. Este ano, só de janeiro até abril, 570 ônibus já foram depredados, causando um prejuízo de R$ 104,44 mil. No ano passado, foram 1.622 veículos depredados e um prejuízo total de R$ 289,95 mil.

O motorista Ovídio de Paula, da empresa Campo Largo, sentiu na pele o problema. Há três semanas, ele teve seu ônibus apedrejado duas vezes na mesma noite, quando passava pela região do Cercadinho, em Campo Largo. "Era perto das oito horas da noite, quando o carro levou a primeira pedrada. Pegou num vidro lateral e eu fui até a garagem trocar de carro", conta. Cerca de duas horas mais tarde, no mesmo local em que havia sido atingido pela primeira vez, o carro que dirigia foi atacado novamente. Dessa vez foram três pedras e os estilhaços de vidro cobriram uma mãe com um bebê de colo, causando pânico dentro do ônibus.

"Agora a gente não consegue mais trabalhar direito porque fica apreensivo. Toda vez que passa por ali fica com medo de levar pedrada", conta. Outro carro da mesma empresa também foi apedrejado no início do mês. A pedra atingiu em cheio o rosto de uma passageira, que teve de ser levada às pressas ao hospital e precisou fazer uma cirurgia plástica reparadora.

A Polícia Militar informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que sabe dos problemas. No entanto, a PM não divulga dados estatísticos sobre a questão para não prejudicar o planejamento tático de combate à criminalidade nas regiões mais perigosas. Foi informado ainda que o Grupo Tático Velado da PM trabalha ininterruptamente, em parceria com a Urbs e a Guarda Municipal, no programa Ônibus Seguro. Policiais à paisana circulam pelos ônibus e pontos de Curitiba e RMC e planejam as táticas de combate ao crime.

Assaltos

Apesar da instituição do cartão-transporte, os assaltos a ônibus continuam, segundo o Sindimoc, que tem uma estatística particular. Até 20 de março, foram registrados 736 assaltos a ônibus, em Curitiba e RMC. No ano passado, foram 4.146 assaltos. Com a instituição da tarifa domingueira, os pontos de ônibus voltaram a ser alvo dos assaltantes que até então tinham deixado um pouco de lado os assaltos a cobradores porque o volume de dinheiro era pequeno. Como a passagem de domingo de R$ 1 não pode ser paga com o cartão, cobradores vêem-se com um grande problema nas mãos.

Espera noturna gera insegurança

Com os assaltos e ataques de vandalismo acontecendo principalmente à noite, ficar esperando ônibus nos pontos está gerando medo e insegurança. Quem usa o sistema no período da noite reclama do tempo de espera e diz que fica mais exposto à violência por causa da diminuição do número de carros depois das 19h.

Luiz Filla, gerente de operação do transporte coletivo da Grande Curitiba da Urbs, explica que o sistema de transporte coletivo na capital e Região Metropolitana tem um perfil no qual a demanda máxima ocorre até as 8h, havendo entrepicos no meio da manhã, no horário do almoço e na saída das aulas, entre 22h e 23h.

Filla explica que, entre 19h30 e 0h, a oferta de ônibus na cidade cai para 55% do total de 1,8 mil carros que circulam no período da manhã. "Sabendo que existe essa redução, o passageiro precisa estar consciente que o tempo de espera nos pontos é o dobro do período da manhã." Ou seja, se normalmente o ônibus demora 20 minutos para passar de manhã ou à tarde, no período da noite este intervalo aumenta para 40 minutos.

O gerente de operações da Urbs afirma que essa oferta atende perfeitamente a demanda. Ela afirma que utilizam no período noturno o sistema cerca de 20% dos passageiros que normalmente usam ônibus nos horários de pico.

Os passageiros que usam os ônibus de madrugada têm mais uma complicação. Neste horário, entre 1h e 4h, só tem ônibus de hora em hora com ônibus cobrindo diferentes linhas. Se durante o dia há uma cobertura especial de 500 metros (o usuário precisa andar 500 metros até achar um ponto de ônibus), de madrugada esta cobertura diminui para mil metros. E das 390 linhas que operam, apenas 28 funcionam na madrugada. (SR) 

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