Indisciplina faz parte do processo educacional

Como recriar o papel ativo da escola em um mundo global, garantindo a autonomia do aluno e a autoridade institucional e do professor? Essa indagação tem uma resposta direta do pós-doutor em Psicologia Cognitiva, Mário Sérgio Vasconcelos: com o reconhecimento da indisciplina como parte do processo educacional nas escolas.

Vasconcelos esteve ontem em Curitiba proferindo uma palestra para cerca de trezentos professores durante o Encontro Temático Regionalizado da Organização Educacional Expoente.

Indisciplina, neste caso, não tem a ver com violência, contra a guerra contra os padrões sociais, mas sim, uma necessidade natural de contestação dos alunos, que deve promover uma mobilidade maior na estrutura educacional e institucional das escolas. ?A sociedade mudou, a tecnologia evoluiu, mas as escolas mudaram pouco e estão muito distantes hoje da realidade do comportamento da comunidade?, afirma Vasconcelos.

Para o professor, a indisciplina é algo inerente ao comportamento humano e nem sempre é nociva. Como exemplo, ele citou o inconformismo dos jovens à época do regime militar. ?Do ponto de vista ditatorial, o ato de lutar contra o sistema era encarado pelos pais e educadores como ato de indisciplina. Mas se os jovens não tivessem voz ativa, o sistema não teria se democratizado?, exemplifica. Na teoria, a indisciplina está diretamente ligada ao questionamento e ao pensamento crítico, fundamental para a formação de crianças e jovens conscientes.

?O conhecimento teórico clássico continua sendo fundamental na formação, mas ele precisa caminhar ao lado do diálogo, do debate e da abertura constante ao questionamento de valores?, defende Vasconcelos. Para tanto, ele ressalta a importância maior da necessidade de conhecimento dos mestres, que terão meios de promover debates das regras institucionais e incentivar resoluções de conflitos.

Instrumentos

Vasconcelos é consciente de que a escola não poderá ser alterada imediatamente, mas existem meios de promover um processo gradual. ?Conviver em democracia é mais difícil do que conviver no autoritarismo, mas também é mais construtivo na formação.?

Uma sugestão interessante de Vasconcelos para a adequação da canalização da indisciplina no sistema educacional, de modo que o respeito seja mantido entre educadores e alunos, é a introdução das artes como método de aceso ao debate. ?Toda a sociedade desenvolvida investe em arte. Usando o teatro, por exemplo, pode-se ter um instrumento para debate político, social ou econômico.? Outra idéia é o uso de jogos, promovendo um aspecto lúdico para a filtração da indisciplina saudável ao crescimento humano. ?São algumas tendências para a substituição da escola instrucional por uma escola formadora, necessária à constituição de alunos que saibam lidar com as tendências, diversidade e complexidade de um mundo globalizado.?

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