Filme mostra prisão de futuro ministro

Nem ao virar ministro da Cultura, Gilberto Gil se livrou de um estigma que o acompanha há pelo menos 28 anos: a cada vez que tem de viajar para os Estados Unidos – para visitar ou mesmo fazer conexão rumo a outro país -, precisa pedir um perdão especial às autoridades federais americanas. A exigência remonta a sua prisão por porte de drogas no longínquo 7 de julho de 1976, durante temporada de shows que ele, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa cumpriam em Florianópolis, Santa Catarina.

Na ocasião, Gil estava com dois “baseados” (cigarros de maconha) e erva suficiente para enrolar mais um ou dois. Outro tanto foi achado com o baterista Chiquinho de Moraes. O episódio é contado em detalhes no documentário Doces Bárbaros, do cineasta Jom Tob Azulay, que deve reestrear nos cinemas em 8 de outubro. Inicialmente, o filme era para ser um simples registro da turnê de quatro ídolos que faziam a cabeça dos brasileiros na época. A blitz no hotel, seguida da prisão e condenação de Gil acabou, porém, transformando a película num filme de tribunal. A denúncia teria partido de Curitiba, por onde o quarteto passou após a estréia no Palácio das Convenções do Parque Anhembi.

Azulay dá voz a praticamente todas as partes. Algumas entrevistas, no entanto, resvalam mais para a comédia que para trama judicial. Os Doces Bárbaros, sobretudo pelo som pífio, deixa a desejar musicalmente. Mas o viés jornalístico o torna surpreendente. A parte do julgamento, aliás, é das melhores. Fala o advogado de acusação: “…não foi este o cidadão que foi preso em flagrante delito portando a erva maldita. Não foi o artista Gilberto Gil e sim o criminoso Gil Passos Gil Moreira…” Fala o advogado de defesa: “Cumpre, pois, antes de puni-lo, recuperá-lo para permitir que seu grupo de artistas difunda pelo país a sua música tão representativa dos nossos costumes”. Gil é então sentenciado à internação em instituto psiquiátrico, de onde só sai dias depois, após a conclusão médica de que cantar seria a melhor terapia para sua plena recuperação.

O agora ministro da Cultura Gilberto Gil, que parou de fumar maconha, vê sem preocupação o passado bater à sua porta. “Quando me propuseram o relançamento do filme, com a inclusão de seis minutos censurados, perguntaram como seria para mim. Se não traria à tona alguns episódios ruins. Não acho que possa prejudicar em nada pelo fato de eu ser ministro. Acho que é um filme bacana. E que realidade nunca choca”, disse o ministro.

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