MIS recebe as peças que usam tecnologia para estimular espectador

Uma tecnologia sonora que faz o público ser transportado ao passado e uma técnica tradicional auxiliando os espectadores a vislumbrar o futuro das viagens espaciais são os atrativos das novas investidas teatrais abrigadas pelo Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo.

Em Oliver, que estreia nesta quarta-feira, 4, a Cia. dos Inquietos explora as possibilidades do uso no teatro de uma técnica de som tridimensional – a holofonia – para contar a história de uma investigação criminal nos anos 1940, ao estilo dos filmes noir. “A holofonia permite recursos cinematográficos, o que para um dramaturgo é absolutamente libertador”, diz o ator Leandro D’Errico, idealizador do projeto e autor do texto.

Munidas de fones, as 20 pessoas da plateia acompanham toda a atmosfera sonora da encenação tendo como referência os ouvidos do personagem principal, um homem apaixonado pela vizinha que, a partir da obsessão por ela, se vê envolvido em um assassinato e assume uma outra identidade. Assim, nos flashbacks de Oliver, o público é transposto do cenário realista do escritório de um investigador aos mais diversos ambientes, como um parque, um salão de boliche ou um restaurante, para, assim, chegar à solução do mistério da trama.

O uso da holofonia não é algo gratuito dentro do espetáculo. A ideia de escrever a peça – que, além dos filmes noir, tem como inspiração a lenda alemã do duplo (doppelgänger) – surgiu justamente da vontade do autor de utilizar a técnica, que Leandro conheceu cinco anos atrás, no fazer teatral. Foram três anos de pesquisa, com a colaboração dos atores Felipe Schermann e João Paulo Bienemann, que completam o elenco, sob direção geral de Ed Moraes. Um microfone específico que simula as condições do ouvido humano foi importado da Alemanha para a gravação e a finalização do áudio foi feita em um estúdio americano.

Já Você Não Está Aqui, espetáculo já em cartaz e concebido pelo mágico Ricardo Malerbi e pelo diretor Pedro Granato, usa a técnica do ilusionismo para aproximar o público do universo científico. Em uma mistura de teatro e performance, o ilusionista propõe um jogo para selecionar entre os espectadores tripulantes para uma missão espacial a Marte. E refletir sobre as perguntas que surgem a partir dessa viagem sem volta.

Com a produção, a dupla quis retomar a parceria do espetáculo O Grande Mágico Mistério, em que Malerbi interpretava um velho mágico que tinha seus truques constantemente questionados por um garoto. “Queríamos desenvolver o personagem numa fase adulta, para entender nossas grandes questões, como respondemos a elas ou fugimos delas”, conta Malerbi.

No processo de pesquisa, com leituras que passaram pelo físico Albert Einstein, o astrônomo Carl Sagan e o psiquiatra Viktor Frankl, que sobreviveu ao holocausto, eles, então, se depararam com o projeto holandês de uma missão tripulada para colonizar o planeta vermelho, o Mars One, cuja seleção dos astronautas será feita por uma espécie de reality show. “Quando vimos o absurdo ligado à expedição a Marte e a maneira rasa como grandes temas estavam sendo tratados, tivemos certeza que era uma linha mestra pra articular a variedade de assuntos que estávamos estudando”, lembra Granato.

O espetáculo é apresentado no mesmo local onde ficou a parte dedicada ao filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço durante a exposição do cineasta Stanley Kubrick, em 2013. “Pesquisamos novas fronteiras da linguagem em um espaço apropriado”, diz Granato. E, como estão em um museu, os cenários de Você Não está Aqui e os de Oliver também se transformam em objeto expositivo, aberto à visitação.

OLIVER

4ª a 6ª, 21h; sáb., 19h e 21h; dom., 17h e 19h. Até 13/12.

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6ª, 21h; sáb. e dom., 18h. Até 22/11.

MIS. Av. Europa, 158, tel. 2117-4777. R$20.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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