Vida agridoce de Phil Collins pode ganhar novos rumos com relançamentos

O site de Phil Collins, remodelado para anunciar os relançamentos de todo o catálogo do músico, a começar por Both Sides e Face Value, ambos nas lojas no dia 6 de novembro, escancara um dos mais marcantes versos do ex-integrante do Genesis em carreira solo: “Take a look on me know” (“olhe para mim agora”). A citação vem da música Against All The Odds, hit com o qual ele ganhou o Grammy de melhor performance pop. O uso da frase faz sentido. Collins quer que esse relançamento escancare a sua versão atual, aos 64 anos, aposentado da música e pai de dois filhos em tempo integral.

A citação é ainda mais densa, contudo. A música é um exemplo perfeito daquilo que Collins foi capaz de fazer ao longo da carreira – e que lhe rendeu ótimos frutos, como os £ 115 milhões de sua fortuna, reveladas pelo jornal Sunday Times, em 2011, e seus 100 milhões de discos vendidos.

Collins foi especialista em versos sofridos, embebidos de camadas pop, prontos para o rádio. Against All The Odds é assim: um grito de desespero do eu lírico, que não se conforma de ter perdido a amada, a única “que o conhecia de verdade”.

Há doçura e felicidade na voz do Collins que vem do outro lado do telefone. Ele afirma estar contente também, com a nova morada na Flórida, com a proximidade com os filhos, uma relação que nunca havia experimentado. Temas sombrios contam o papo com o jornal O Estado de S.Paulo.

Em 2004, Collins chegou a afirmar que se aposentaria e “ninguém iria notar sua ausência”. Havia um humor inglês ali, autodepreciativo, mas também uma crítica do músico que, muitas vezes, não foi levado a sério pela crítica por ser “pop demais.” A aposentadoria de hoje, na verdade, deveria acontecer 11 anos atrás, conta ele. “Sabe quando você pensa: ‘O que posso fazer de diferente hoje?’. Naquele ano, minha terceira esposa tinha recentemente tido nosso segundo filho. Achei uma boa ideia que a gente os criasse juntos. Queria fazer com eles coisas que nunca havia feito. E, então, minha esposa me deixou. E levou as crianças para Miami”, conta também.

A ideia de deixar a indústria musical permaneceu por algum tempo guardada na gaveta mais escondida entre pensamentos de Collins. Profissionalmente, ele ainda gravou a canção tema da animação Tarzan, da Disney, fez uma última turnê com o Genesis e lançou o disco Going Back, com covers de clássicos da Motown.

Na vida pessoal, ele passou a beber mais álcool do que estava acostumado e enfrentou uma depressão. “Quando você casa três vezes e esses relacionamentos chegam ao fim, você começa a pensar que o problema está em você”, diz ele. Surgiram na época notícias de que ele pensava em tirar a própria vida. “Essa história de suicídio nasceu em uma entrevista. Disse ao repórter, assim como estou dizendo para você, que o pensamento havia passado pela minha cabeça”, explica. “Isso não quer dizer que eu realmente iria tentar fazer isso, como disseram.”

Na última turnê com o Genesis, ele deslocou uma vértebra do pescoço e, mesmo após realizar uma cirurgia bem-sucedida, não é mais capaz de segurar firmemente uma baqueta de bateria, instrumento com o qual começou a carreira. Tocar piano também se tornou mais difícil. “Com mais tempo livre, comecei a beber mais ainda. E meu pâncreas começou a mandar alguns avisos. Eu quase morri.”

No contrato com a gravadora Warner Music, diz ele, não existe espaço para um disco de inéditas, apenas para este relançamento da discografia. Ele, contudo, já não descarta a possibilidade de voltar a gravar canções inéditas. “Acho que meus discos nunca receberam o devido valor”, explica. “As pessoas me conheciam porque tocava muito no rádio, mas nunca tiveram a oportunidade de ouvir um álbum do início ao fim.”

Collins é citado como grande influência por músicos contemporâneos, que vão do pop (como Pharrell Williams, Kanye West, Alicia Keys e Beyoncé) ao indie (caso de The 1975, Neon Indian e Yeasayer). “Com todas essas pessoas falando sobre meu trabalho, posso ser redescoberto por um novo público”, justifica. “Se isso acontecer, nada me impediria de voltar a tocar. Tenho recolhido baquetas de bateria espalhadas no chão deixadas pelo meu filho e percebi que estou mais firme. E esse sou eu hoje: aposentado, perto dos filhos. Sim, estou feliz.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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