‘Os Homens e as Mulheres’ conta cinco histórias inspiradas no folclore africano

Michel Ocelot está no meio de uma nova animação que o está deixando louco. A Paris da Belle Époque, por volta de 1900. “Tem muitos salões, espelhos, candelabros e os vestidos são incrivelmente complicados. Estou tendo de trabalhar com muitos desenhistas. Não é como gosto de fazer, mas acho que vai ficar bonito”, avalia. Ocelot gosta de fazer como na série Kiriku. O terceiro filme acaba de estrear na cidade.

Ocelot conversou com a reportagem pelo telefone, da França. Estava na casa da irmã, em Lyon. “O primeiro (Kiriku) foi uma animação artesanal, que fiz praticamente sozinho, com uma equipe bem reduzida. Quando estreou, bateu o Disney da vez, que era Mulan. Achei que havia cumprido minha missão, mas aí aconteceu uma coisa engraçada. A indústria (produtores, distribuidores e exibidores) começou a exigir outro Kiriku. O público chegava e também dizia que Kiriku e a Feiticeira lhes tinha feito tanto bem que eu não tinha o direito de parar. Nesse caso, parei de resistir. Para mim, o importante era o produto artístico. Não queria insistir porque havia dado certo na bilheteria, mas o público me fez mudar de ideia. As pessoas nunca deixaram de me pedir novas aventuras. E eu comecei a ceder. O folclore africano é tão rico que histórias nunca vão faltar.”

E vieram Kiriku e os Animais Selvagens e, agora, Kiriku – Os Homens e as Mulheres. Mas Ocelot admite. “O primeiro nasceu inteiramente da minha cabeça, e eu estava tão imerso na tradição africana que escrevi o roteiro em uma semana. Para os demais, e para Os Homens e as Mulheres, recorri a colaboradores, que me ajudaram a escrever o roteiro. O desenho artesanal também foi computadorizado, mas eu não abro mão de estabelecer o conceito, o desenho de cada personagem, e a paleta de cores.” Embora no Brasil, e em São Paulo, Kiriku – Os Homens e as Mulheres esteja sendo lançado somente em 2D – um lançamento bem pequeno, se comparado ao gigantismo dos circuitos de Divertida Mente e Minions -, Ocelot cedeu à pressão dos distribuidores e exibidores franceses e norte-americanos e fez o filme em 3D, mas com a condição de que tivesse o lançamento alternativo e as cópias planas predominassem.

“O desenho animado é, por princípio, artificial. Não precisa de realismo. Se a história é boa, qual o significado do relevo? Sou bem reticente quanto ao seu uso, mas resolvi testar a técnica quando fiz Contos da Noite (a sua versão das ‘1001 Noites’) E diverti-me porque mantive, dentro do relevo, os personagens planos. Isso criava um efeito estranho, admito. E aqui estou de novo brincando de 3D, mas minha preferência é sempre o 2D. Deixo sempre claro que é o formato adequado para se ver meus filmes.” Ocelot detesta os truques, mas conta que lançou mão de um em Os Homens e as Mulheres. “Para criar um verdadeiro Kiriku e ter uma cor uniforme para os personagens, meus coloristas e eu criamos uma espécie de contorno para eles. Ficou tão bom que estou contente de haver trapaceado nesse caso.”

As histórias de Kiriku, herói de seu povo, são sempre contadas pelo Homem-sábio da Montanha. Desta vez, a questão que se coloca é – quem é maior? O pequeno Ki, com certeza, não, mas em busca de respostas ele passeia através das relações entre homens e mulheres, e entre homens e mulheres e a natureza. Ocelot cria mais cinco histórias baseadas no folclore africano. A primeira remete a Kiriku e a Feiticeira, a segunda a Os Animais Selvagens. A terceira, a melhor, discute o preconceito por meio da história do pequeno tuareg, o menino azul que gera desconfiança. A quarta aborda a figura da contadora de histórias e na quinta, talvez a mais fraca, as habilidades musicais do pequeno Ki estão no centro da trama. Ocelot conseguiu de novo – concebeu outra daquelas animações de que só ele parece possuir o segredo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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