Após luta contra o câncer, cantora Sharon Jones está no Brasil para nova turnê

Como um Davi, a cantora Sharon Jones passou a vida a enfrentar seus Golias. Sua trajetória foi dura e o reconhecimento de seu talento, tardio. Da indústria fonográfica, já ouviu que era baixinha demais, tinha a pele escura demais, não era bonita o suficiente e, aos 30 anos, que era muito velha. Mas, desde 2013, a pequena notável do soul talvez enfrente seu maior antagonista. Diagnosticada com câncer na vesícula biliar, Sharon passou por sessões de quimioterapia e cirurgias. Deu um tempo na carreira e adiou o lançamento de seu recente disco, Give The People What They Want, gravado com os The Dap-Kings e só lançado em 2014. Hoje, aos 59 anos, a cantora norte-americana, nascida na Georgia, ainda não sabe se está livre da doença, mas encara essa fase de maneira otimista. “Vou voltar ao médico em junho para fazer tomografia. Acredito que, quando eu voltar, eles vão me falar que não tenho nada, que está tudo ótimo. A cada seis meses, tenho de fazer check-up”, diz Sharon, em entrevista por telefone ao jornal O Estado de S. Paulo.

De volta à estrada com a nova turnê, Sharon Jones e sua banda estarão pela segunda vez no Brasil. Em São Paulo, se apresentam no Bourbon Street amanhã e no HSBC Brasil no dia 28. A primeira vez por aqui foi em 2011, quando eles foram uma das principais atrações do BMW Jazz Festival.

O furacão Sharon estremeceu o palco do Auditório Ibirapuera, num show primoroso que remontou à atmosfera do melhor do soul sessentista e setentista. Daquela primeira experiência, ela afirma não ter muitas memórias, porque “foi tudo muito corrido”, mas lembra das sensações. “Foi incrível, nós sentimos muito amor da plateia. Os jovens estavam muito animados, lembro de ver felicidade no rosto das pessoas por causa do que estávamos fazendo.” Como de praxe, Sharon interagiu com o público: chamou dois rapazes da plateia para dançar com ela e quatro mulheres para cantar ao seu lado.

No repertório desta segunda passagem pelo País, Sharon fará uma incursão por seu novo Give The People What They Want, puxado pela contagiante Stranger To My Happiness – que reflete muito da alma e da música da cantora -, mas ela promete revisitar seus outros trabalhos.

“Quando a gente começou a ensaiar (o novo disco), mudamos algumas coisas das canções (para o show). No Brasil, você conseguirá ouvir o que a gente fez, como as músicas no show estão diferentes das do álbum”, avisa ela.

O disco já estava pronto quando Sharon recebeu o diagnóstico. “A ideia era começar a promovê-lo em junho e iniciar a turnê em agosto, mas tudo parou em maio”, conta. Ficou para 2014. E, mesmo que o álbum não tenha sido cunhado sob o efeito da luta que travou, uma de suas faixas, Get Up and Get Out – levante-se e saia daqui – funciona como uma espécie de mantra para a cantora. “Quando falo nessa música, estou dando meu testemunho do que Deus me ajudou a passar e que me sinto grata por isso.”

Pelo trabalho, Sharon Jones & The Dap-Kings receberam indicação ao Grammy por melhor álbum de R&B. Foi a primeira nomeação de Sharon. Ela afirma ser grata pela indicação, mas que teria tido mais chances se houvesse uma categoria soul e nela concorresse. “A categoria R&B tem muito pop, R&B é o novo pop. O Grammy precisa ter uma categoria soul. Mas me sinto honrada por ter sido indicada. Agora, as pessoas me chamam de ‘Sharon Jones, indicada ao Grammy’ e isso soa bem.”

E como a música a ajudou durante a fase difícil da vida? Por incrível que pareça, Sharon conta que se afastou dela durante esse período. “Durante os tempos difíceis, quando estava realmente doente, eu nem conseguia ouvir minha própria música. De vez em quando, eu ouvia música gospel. Fora isso, eu não ouvia nada”, confessa. “Eu nem conseguia ficar de pé e andar. Quando eu consegui respirar normalmente de novo, eu voltei a ouvir música.” E retornou a mergulhar no então novo disco para fazer os shows.

A dor fortaleceu sua fé e suas crenças. “Toda vez que estou no palco, as pessoas me questionam por que estou fazendo tantas coisas. Qualquer momento pode ser o último.” Sharon Jones diz que, do palco, compartilhará sua história com o público brasileiro. E ele poderá testemunhar que a guerreira está de volta ao seu merecido posto.

SHARON JONES

Bourbon Street. R. dos Chanés, 127. Amanhã, 22h. R$ 195/R$ 350. HSBC Brasil. R. Bragança Paulista, 1.281. Dia 28, 22h . R$ 190/R$ 380.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Voltar ao topo