Convivência na turnê norteou novo disco de Tulipa Ruiz

Quando João Donato entrou no estúdio, em São Paulo, para gravar a participação no terceiro disco da Tulipa Ruiz, Dancê, foi recebido pelos integrantes da banda vestidos com camisas floridas, como costuma usar o músico acriano de 80. “O combinado era que todos estivéssemos ‘na estica’ quando ele viesse gravar”, conta Tulipa.

A presença de Donato, assim como de outras no álbum, como Lanny Gordin em Expirou ou a banda Metá Metá em Algo Maior, não eram planejadas previamente pela cantora e compositora ou seu irmão, o produtor e também compositor Gustavo Ruiz. “Isso me faz ficar apaixonada pelo processo”, conta ela. Quando Lulu Santos foi chamado para participar de Dois Cafés, canção embebida no pop do segundo álbum dela, Tudo Tanto (2012), também foi um processo semelhante, uma ideia surgida durante as gravações.

Antes de entrarem oficialmente no estúdio Red Bull Station, em São Paulo, Tulipa, Gustavo e a banda, formada por Luiz Chagas (pai deles e guitarrista), Márcio Arantes (baixista) e Caio Lopes (baterista), passaram por período de 15 dias em um sítio, em Joaquim Egídio, distrito de Campinas. Ali, a imersão naquelas que seriam as 11 canções de Dancê era completa. “Só tinha visto isso, de banda ir para um sítio para gravar, em programa da MTV”, brinca Tulipa. “Quando eu e o Gustavo nos juntamos para fazer música, entramos em um modo hiperativo de produção. Chegamos ao sítio já com coisas montadas.”

Ela havia contado a Gustavo qual era a ideia para o disco. “Queria algo dançante, no sentido de celebração”, diz Tulipa. “Para mim, é importante quando a música bate e já fica com vontade de dançar. Gosto disso, queria provocar isso nas pessoas: um disco no qual você sinta primeiro pelos poros e depois vá para a sua cabeça.”

O irmão é o grande responsável por transpor as ideias dela para o que se escuta em Dancê. Uma sonoridade “mais aberta”, como ele gosta de dizer. Um show realizado ao lado de Otto e Baby do Brasil, no fim do ano passado, ajudou o produtor a encontrar algo para norteá-lo. Criou arranjos de metais e percebeu que tinha, diante de si, algo que poderia ser desenvolvido para o novo trabalho. No disco, arranjos de metais e sopros, criados pelo também baixista Márcio Arantes e Jacques Mathias, respectivamente, formam a primeira camada a ser sentida na pele na audição de sete das 11 faixas do novo disco.

Assim como no trabalho anterior, Tudo Tanto, a convivência e afinidade criada nos longos períodos de turnê entre a família Ruiz e banda é responsável por dar ao disco um caráter coletivo. “Não sinto como se esse disco fosse de uma cantora solo, mas, sim, de uma banda que está tomando força na estrada entre um disco e outro”, diz Tulipa. Gustavo concorda: “De uma forma inconsciente, ela foi guardando uma série de signos e códigos que nos fazem soar dessa maneira. Ela passou por muita coisa, muita gente. Nós todos experienciamos isso”.

Na entressafra entre um disco e outro, dois lançamentos apontavam, mesmo que de forma inconsciente, para o que viria a seguir: caso de dois remixes e single Megalomania, criado pela banda durante a turnê, no improviso. Em Dancê, a criação coletiva está, por exemplo, em Reclame. A banda tocava enquanto a cantora tinha a ideia de versos vindos de anúncios colados em postes pela cidade. “Trago seu amor de volta” foi o primeiro. Depois da banda criar os arranjos, Tulipa passou por uma noite de exercício de composição e encontrou o caminho para suas palavras.

Dancê, por fim, é a reunião das experiências dos irmãos Ruiz ao longo desses cinco anos, desde a estreia com Efêmera. Direta ou indiretamente, elas estão ligadas à nova produção, no improviso ou memórias ao lado de gente como Donato e Gordin. Gustavo guarda, no celular, um vídeo no qual músico acriano ensaia para gravar a canção Tafetá, em casa. “É muito bonitinho”, diz. “Isso é para guardar”, responde ela.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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