Leandra Leal encontra o público no Belas Artes para falar de ‘Sônia Silk’

Nos anos 1970, Júlio Bressane e Rogério Sganzerla já eram dois dos mais originais e criativos autores do cinema brasileiro. Mas houve um período muito particular, quando fundaram a produtora Belair e, em menos de seis meses de 1970, fizeram seis filmes. Você leu direito – seis! E são obras que fizeram história pela liberdade e experimentação. Um desses seis filmes foi Copacabana Mon Amour, no qual a mítica Helena Ignez fez Sônia Silk, uma prostituta que sonha ser estrela da Rádio Nacional.

Em 2009, Bruno Safadi e Noa Bressane fizeram o documentário Belair, reconstituindo aqueles anos de ousadias e turbulência. Depois disso, as coisas precipitaram-se. Amigo de Leandra Leal, Bruno, associado a Ricardo Pretti, do coletivo cearense Alumbramento, começou a discutir com a atriz a possibilidade de um projeto retomando o espírito – o imaginário – da Belair (e de seus criadores). E surgiu a Operação Sônia Silk, trilogia formada por O Rio nos Pertence, O Uivo da Gaita e O Fim de Uma Era. Estão todos em cartaz na cidade.

Leandra chamou os amigos Mariana Ximenes e Jiddu Pinheiro, e eles se integraram à Operação Sônia Silk. “Foi tudo muito intenso. Eu me associei ao projeto como força produtiva, por meio da minha produtora, a Daza.” O nome, ela informa, lembra a personagem de O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel García Márquez. “Mas não é só isso. Queria um nome curto e sonoro, Daza tem tudo. O bacana é que não estava lá só como atriz nem só como produtora. Todos nós desempenhamos múltiplas funções, num regime de cooperativa. E, embora os filmes tenham sido finalizados cada um a seu tempo – primeiro O Uivo e O Rio, depois O Fim -, eles foram feitos todos juntos. Tivemos um ano de preparação, discutindo os detalhes. Nesse meio tempo, foram surgindo outros projetos. Fiz o Éden, com o Bruno (Safadi), O Lobo Atrás da Porta, com Fernando Coimbra. Não podia dizer não a todos esses filmes e projetos.”

No retrospecto, ela conta que a urgência dava o tom de tudo isso. “Terminei o Éden num dia e no outro já estava na Operação Sônia Silk. Terminei a Operação numa sexta e na segunda já estava no set do Lobo. Houve dias, no Operação, em que fazíamos cenas de dois filmes simultaneamente. Saía da cena e, como produtora, tinha de me ocupar dos demais problemas. Resolver locações, o problema de alimentação. Foi uma experiência muito rica e gratificante, porque estava todo mundo feliz de participar de algo que a gente sabia que era um desafio.” No meio do caminho ainda surgiu a novela (Império), e de novo não podia dizer não.

“Fazer a mocinha é algo importante para uma atriz. E a novela foi abençoada. Estabeleceu uma ligação muito forte do público comigo.” Para o espectador que acompanhou, durante meses, a saga de Cristina, em Império, novela de Aguinaldo Silva, os filmes da Operação Sônia Silk vão mostrar uma Leandra muito diferente. O último deles, O Fim de Uma Era, é um documentário, ou um making of, de uma filmagem que poderia ser a dos outros filmes. Leandra e Mariana Ximenes estão deslumbrantes. Belas – mas isso você já sabe que são. Estão também glamourosas. Leandra reflete: “Esse glamour é uma construção do olhar dos diretores, mas também carrega uma ideia de decadência. É fascinante.” Tudo isso ela promete compartilhar nesta terça-feira à noite, no encontro que terá com o público no Belas Artes, depois da sessão das 20h40.

O Uivo da Gaita trata do triângulo formado por Leandra, Mariana e Jiddu. O filme discute relações – o afeto – no mundo contemporâneo. O Rio nos Pertence carrega, no título, uma homenagem a Jacques Rivette e a seu Paris Nous Appartient, de 1960. Mulher volta ao Rio em busca de respostas para perguntas que não sabe quais são, ou que não ousa formular. A cidade exerce sobre ela seu feitiço, como em Rivette. Fim de Uma Era é um filme sobre filme(s).

Alimenta-se dos outros dois para continuar falando de afeto. São todos lindamente fotografados por Ivo Lopes de Araújo. Durante a novela, Leandra conta que não tinha tempo para a vida. Agora, depois de curtir um pouco, trabalha num projeto documentário que a absorveu – como mulher, produtora, diretora “e cidadã”, enfatiza. Divinas Divas lembra as pioneiras da arte do travestismo no Brasil. Leandra – seu nome é paixão – está adorando contar suas histórias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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