Bill Murray é excepcional em ‘Um Santo Vizinho’

Bill Murray começou na TV, no programa Saturday Night Live. No cinema, teve uma primeira participação não creditada em Próxima Parada – Bairro Boêmio, de Paul Mazursky. Começou a virar cult com Ivan Reitman, na série Os Caça-fantasmas. Seus grandes papéis foram em filmes de diretores autorais – Harold Ramis (Feitiço do Tempo), Wes Anderson (Os Excêntricos Tennenbaums), Sofia Coppola (Encontros e Desencontros), Jim Jarmusch (Flores Partidas). Murray é excepcional (e cool) em Um Santo Vizinho, de Theodore Melfi. Você vai se perguntar quem o tiraria da lista de indicados para o Oscar de ator. Foi um crime Bill Murray ter ficado fora.

De cara, o vizinho não tem nada de santo. É turrão, bebe demais. E deve ser chegado numa perversão, porque faz sexo com a prostituta russa que está grávida. De tão bêbado, quebra a cerca ao tentar estacionar o carro. Chegam Melissa McCarthy e o filho e ele dá um jeito de creditar o estrago a ela. Logo, assume também o encargo de bancar o babysitter do garoto, enquanto a mãe trabalha num hospital, reiniciando sozinha a vida pós-divórcio.

A santidade do título tem a ver com a escola religiosa em que o garoto estuda e com o professor que propõe aos alunos que encarem o tema numa perspectiva contemporânea, buscando santos ao redor. Nosso garoto resolve santificar Murray. As informações esparsas sobre o personagem – a mulher terminal, a participação na guerra (do Vietnã) – vão sendo organizadas e sistematizadas. No final, sabemos bastante sobre os personagens de Murray, Melissa (a mãe) e Naomi Watts (a prostituta). As atrizes são ótimas, criando personagens pouco usuais, Murray é muito bom, como sempre, mas a surpresa – o diferencial – é o garoto.

Jaeden Liberher não apenas faz a ponte entre o velho e a mãe. O garoto possui uma compreensão mais madura que a dos adultos. Não é um filme sobre santidade. É sobre humanidade. Um oratório laico, na tradição de Roberto Rossellini. O diretor Melfi parece cria do italiano.

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