CCBB abre retrospectiva sobre Jerry Lewis

Críticos tradicionais sempre disseram que, com um bom roteiro e um mínimo de savoir-faire, é possível fazer um bom western, um thriller eficiente. Para acertar na comédia, é preciso muito mais. Timing, maleabilidade física e, se o humor é verbal, diálogos bem escritos, cuspidos taco-no-taco. No CCBB, começa nesta quarta-feira, 4, a retrospectiva de Jerry Lewis – O Rei da Comédia -, que pode não trazer todo o autor, mas oferece uma seleção atraente do melhor que ele fez como ator e/ou diretor. Nesta quinta, 5, tem mais humor, e na Praça da Unidade do Sesc/Pinheiros, começa outra seleção dedicada a Mel Brooks.

Durante todas as quintas-feiras do mês, nos dias 5, 12, 19 e 26, serão exibidos quatro clássicos do ator e diretor, integrando o projeto Comediantes Como os de Antes, que tem como objetivo resgatar realizações de grandes artistas que marcaram a história do cinema. A programação começa com Banzé no Oeste e prossegue, pela ordem, com Primavera para Hitler, O Jovem Frankenstein e A Última Loucura de Mel Brooks. De Mel Brooks pode-se dizer o mesmo que de Leonard Nimoy, que morreu na semana passada. É único e é múltiplo. Nascido Melvin Kaminsky numa família judaica de New York, em 1926 – tem 88 anos -, é ator, diretor, produtor, roteirista, compositor e letrista.

No começo, escrevia para Sid Caesar no show Broadway Review – foram dez anos de colaboração. Estabeleceram sua reputação como humorista feroz, não raro demolidor. E veio nova parceria – com Buck Henry, com quem escreveu e produziu a série Agente 86, que transformou Don Adams, graças ao personagem Maxwell Smart, num mito da época. Sua estreia no cinema foi com o curta The Critic, que lhe valeu um prêmio da Academia. Em 1968, fez o primeiro longa, The Producers, que venceu o Oscar de roteiro. Lançado no Brasil anos mais tarde, com o título de Primavera para Hitler, o filme foi montado como musical na Broadway, em 2000 – e ganhou nova versão para cinema em 2003, com Nathan Lane e Matthew Broderick.

No original, Zero Mostel é o produtor que propõe um negócio escuso para Gene Wilder. A ideia é levantar dinheiro para o pior show do mundo, vendendo antecipadamente os ingressos. De posse da bolada, Mostel espera voar para o Rio e desfrutar da dinheirama, mas ocorre o improvável – o show estoura, vira fenômeno de público. Conta a lenda que Mel Brooks se inspirou no lendário Pandemônio, de H.C. Potter, de 1941, criando números insanos como Springtime for Hitler. A ideia era causar – um judeu celebrando o super-homem nazista -, numa época, os transformadores anos 1960, em que os comportamentos estavam mudando e tudo parecia permitido.

Nos anos e filmes seguintes, Mel Brooks perfeccionou sua especialidade – a paródia (o pastiche?) de gêneros clássicos, cujos clichês assume e leva ao limite, como forma de potencializar o humor. Foi assim que, em, 1974, e cercado pelo mesmo elenco – Gene Wilder, Marty Feldman, etc. -, logrou dois de seus melhores filmes. Satirizando os códigos de western, fez Banzé no Oeste, e os de terror, O Jovem Frankenstein. Em A Última Loucura de Mel Brooks, voltou ao velho burlesco, homenageando/recriando o cinema mudo. Seu humor é muitas vezes fácil, grosseiro – e sempre eficiente. Em 1964, casou-se com Anne Bancroft.

Permaneceram juntos até a morte dela, em 2005, mais de 40 anos depois. Seu estilo de humor judaico/nova-iorquino difere do de Woody Allen, mas ambos foram (são) os grandes dessa tendência. Produziu obras de grandes diretores, como O Homem Elefante, de David Lynch, e A Mosca, de David Cronenberg. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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