MITsp chega com 12 espetáculos à 2ª edição

“Agora que vocês estão cobrando, vocês vão ver!”, diz o diretor de teatro Antônio Araújo, repetindo o que ouviu de algumas pessoas. A fala faz referência a uma das novidades da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), que abre sua segunda edição na sexta-feira, 6, novamente com direção artística de Araújo e direção-geral de produção de Guilherme Marques.

O que eles iriam ver, segundo os autores da frase, era o esvaziamento do público que compareceu em peso à primeira edição, totalmente gratuita, em março do ano passado. A previsão logo se mostrou equivocada: poucos dias após o início das vendas de ingressos (R$ 20 ou R$ 10, no caso de meia-entrada), no início de fevereiro, a maioria dos espetáculos já tinha lotação esgotada. A decisão é uma forma de controlar as filas.

“Acho que isso tem a ver com algo que intuíamos”, diz Araújo. “A cidade precisava de um evento dessa natureza.” Segundo ele, São Paulo tem alguns festivais internacionais como a Mostra Latino-americana de Teatro de Grupo, o do Memorial da América Latina e o Mirada, em Santos. Os recortes, porém, como os nomes dos eventos sugerem, são latino ou ibero-americanos. “Faltava um festival realmente internacional, que englobasse países do mundo todo”, ressalta.

Se, em 2014, a MITsp reuniu montagens de oito países, neste ano nove nações aparecem por aqui. O número de espetáculos, no entanto, teve uma leve queda: sem conseguir os 15 desejados (por falta de verba), serão 12, diante dos 13 da edição passada. A ideia é, de fato, manter a MITsp com um formato menor, em uma “escala humana”. A mostra é calculada para que o público tenha condições de ver todos os espetáculos e participar das atividades paralelas.

A programação foi definida em três principais eixos curatoriais. Já presente no ano passado, a relação do teatro com as outras artes fica mais perceptível, sobretudo com o cinema. É o que ocorre, por exemplo, em Senhorita Julia, clássico do sueco August Strindberg, que ganha versão da companhia alemã Schaubühne am Lehniner Platz, com direção de Katie Mitchell e Leo Warner. No espetáculo, os diretores usam técnicas de cinema, dando caráter multimídia à encenação. O mesmo acontece em Julia, versão do mesmo texto montada pela Companhia Vértice, com direção de Christiane Jatahy – única diretora brasileira presente na MITsp. Ela também apresenta E se Elas Fossem para Moscou?. Os espetáculos são os únicos já apresentados no Brasil.

Espera-se que outra peça também promova a comunicação entre teatro e cinema. Canção de Muito Longe é uma coprodução da MITsp com o grupo holandês Toneelgroep Amsterdam. Os curadores ainda não sabem como será a peça, já que ainda não tiveram acesso a ensaios e deram liberdade total ao diretor Ivo van Hove. “Os últimos trabalhos de Hove aos quais assisti tinham relação com o cinema”, explica Araújo. “Não sei quanto Canção… vai ter disso.” Para ele, que já dirigiu um espetáculo produzido em parceria com o Festival de Avignon e o Teatro Nacional da Bélgica, uma coprodução desse tipo faz com que São Paulo finque os pés no cenário internacional de teatro.

As versões de Senhorita Julia e E se Elas Fossem… marcam outra vertente curatorial: a remontagem de textos clássicos, sempre com encenações contemporâneas. Juntam-se às peças, nessa categoria, A Gaivota, do russo Yuri Butusov, e Woyzeck, do ucraniano Andriy Zholdak. Estes diretores, por sua vez, expressam a terceira grande linha de pensamento: a presença de conflitos geopolíticos.

As relações entre espetáculos da mostra vão além desses grandes eixos. Araújo atenta para sutilezas como Stifters Dinge, peça suíço-alemã dirigida por Heiner Goebbels. No palco, nenhum ator. Apenas uma instalação de som e imagem, que mescla música erudita contemporânea e artes visuais. As Irmãs Macaluso, da italiana Emma Dante, faz um tipo de contraponto, com seu forte elenco de oito mulheres e um homem.

Para espectadores mais ávidos, há uma intensa programação de Olhares Críticos. Estão previstos, logo após algumas apresentações, ‘diálogos transversais’ em que profissionais de outras áreas falam sobre as peças (José Miguel Wisnik, por exemplo, aborda Canção de Muito Longe), e ‘pensamentos em processo’, com diretores abrindo seus processos de criação.

Com grande parte dos ingressos esgotados, Araújo faz de uma prática comum sua uma dica: “Não comprou? Vá para a porta do teatro e tente entrar. A maior parte das vezes em que faço isso, dá certo”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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