Cinema

A perda de controle, num grande inédito de Bellocchio

Histórias de família sempre atraíram o italiano Marco Bellocchio. O primeiro longa, “De Punhos Cerrados”, incitava à revolta contra a autoridade familiar. “Em Nome do Pai” retomava a revolta, agora contra a estrutura repressiva de um colégio de jesuítas. Para Bellocchio, não bastava ir contra família e religião – a revolta tinha de ser lúcida. Chama-se “O Salto no Vazio, Salto nel Vuoto”, o longa (inédito) de 1980 que radicaliza e encerra a obsessão pelo grupo familiar na obra do autor.

Michel Piccoli faz um iminente juiz. Criado pela irmã, ele se desconcerta com o que observa nela. Anouk Aimée sempre foi dedicada ao irmão, mas agora ela usa o que parece loucura para tentar se libertar dele. Quando Piccoli lhe apresenta um jovem ator, Michele Placido, Anouk fica seduzida por ele. E agora é a vez de o irmão voltar-se contra ela, louco de ciúme.

Um pouco como o argentino Relatos Selvagens, que abriu a Mostra – e estreia quinta-feira -, “Salto no Vazio” é sobre gente que perde o controle da própria vida, mas feito por um autor que obviamente controla seu material dramático e usa o filme para contestar família e sociedade. Bellocchio, sempre atraído pela psicanálise, terminou indo se analisar. Escolheu um terapeuta pouco ortodoxo, Massimo Fagioli, que virou roteirista (e até codiretor, suspeita-se) de seus filmes.

Só depois de se libertar de Fagioli, como a personagem de Anouk Aimée tenta se libertar do irmão, Bellocchio voltou a ser o maior diretor italiano de sua geração, maior até mesmo que Bernardo Bertolucci. “Salto no Vazio” é forte. Piccoli e Anouk foram os melhores ator e atriz em Cannes. Poucas vezes os prêmios foram tão merecidos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.