No Oscar brasileiro, comédias perdem para dramas

Responsáveis pelas maiores bilheterias do cinema nacional, as comédias conquistaram uma categoria especial na 13ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, nossa versão do Oscar. Mas na cerimônia, realizada na terça-feira, 26, no Teatro Municipal do Rio, os dramas passaram à frente: Faroeste Caboclo, de René Sampaio, foi o filme mais premiado, com sete troféus, incluindo o principal da noite, o de melhor longa de ficção. Em seguida, vieram Flores Raras, de Bruno Barreto, com quatro, e Serra Pelada, com três.

A única comédia que se saiu bem foi Cine Holliúdy, do cearense Halder Gomes, que venceu como melhor comédia e melhor filme, no voto popular. “Esse prêmio não podia estar em melhores mãos, na terra de Renato Aragão e de Chico Anysio”, disse Gomes. Minha Mãe é Uma Peça, o filme mais visto de 2013 (foram 4,6 milhões de espectadores), que concorria como comédia e pelo roteiro adaptado da peça de Paul Gustavo, não levou nada.

Nas categorias de ator/atriz (principal/ coadjuvante), os jurados preferiram os papéis sérios: Glória Pires, como Lota Macedo Soares, em Flores Raras, e Fabrício Boliveira, como João de Santo Cristo, em Faroeste Caboclo, ganharam nos principais. Boliveira se consagrou já em seu primeiro longa como protagonista.

René Sampaio estreou em longas com Faroeste Caboclo – só tinha dirigido três curtas. Ele aproveitou para pedir mais telas para o cinema brasileiro. “Qualquer filme, seja pequeno ou grande, precisa ter seu espaço na sala de cinema. Nós, que tivemos um público grande (1,5 milhão de espectadores, a quinta melhor bilheteria de 2013), sabemos como é difícil. Nossa meta é que o governo nos ajude a manter nossos filmes por mais tempo. O filme que faz 30 mil podia fazer 100 mil”.

Homenageado da premiação, apresentada pelo casal de atores Caio Blat e Maria Ribeiro, o cineasta Domingos Oliveira foi celebrado também como dramaturgo e filósofo. Seu primeiro e mais icônico filme, Todas as Mulheres do Mundo (1966), serviu de norte para o roteiro, do dramaturgo Ivan Sugahara. Setenta e oito anos no mês que vem e 52 de carreira, ele voltou a apelar por mais recursos para o que considera o “cinema útil”.

“Eu fiz Infância, um filme ótimo (prêmio de melhor roteiro, de Domingos, no último Festival de Gramado), mas que ninguém quer distribuir”, afirmou, em inflamado discurso ao fim da cerimônia. Ladeado pela família e amigos como Paulo José e Aderbal Freire-Filho, ele foi o único da noite a ganhar aplausos de pé do Municipal. “O cinema brasileiro tem que ser útil, para que contribua para a construção de um Brasil melhor. Cinema é um bisturi fino, que atinge lugares onde nada mais vai. Claro que deve haver as comédias que dão ao público o que ele quer. Mas o cinema de mercado tem que saber que sua função primeira é garantir a existência do cinema útil”, defendeu.

À exceção do voto popular para melhores filmes, as escolhas são de 200 sócios da Academia Brasileira de Cinema, profissionais do setor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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