‘Sete Caixas’ se passa no Paraguai

Sete Caixas já foi chamado de Cidade de Deus paraguaio. Mas a comparação é um pouco forçada. Verdade que, como o filme brasileiro, fala de garotos desassistidos, tráfico de drogas e corrupção. Mas o ponto de vista é outro e a proposta estética dos diretores Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori, embora frenética, difere da de Fernando Meirelles em sua adaptação do romance de Paulo Lins.

O viés adotado pelos paraguaios não é a de alguém metido com o tráfico, mas o de um garoto que sobrevive num mercado de Assunção de pequenos transportes realizados com sua carreta de mão. Ele faz o mesmo que outros garotos e ganha uns trocados. Insuficientes para comprar o celular com que sonha. Um dia aparece uma proposta tentadora – a de transportar e esconder as tais sete caixas, das quais ele desconhece o conteúdo e valor. Ele e o espectador.

Esse será o mistério. Victor e suas caixas, atrás das quais muita gente corre em uma Assunção de pesadelo, cheia de vielas sujas, tipos mal-encarados e intenções duvidosas.

A proposta é clara: atrair a simpatia do espectador para Victor e suas dificuldades em cumprir a missão. Que consiste em ocultar as caixas, depois entregá-las em determinado endereço e jamais tentar saber o que elas contêm. Uma alavanca narrativa desse tipo de história consiste nas dificuldades da missão, pela qual o garoto recebeu metade de uma nota de cem dólares; a outra metade virá

depois da tarefa cumprida.

O charme meio sujo do filme consiste na naturalidade com que o cotidiano do tal Mercado 4 é mostrado. Aquilo pode ser uma selva, porém habitada por seres humanos reais, matizados, contraditórios, cheios de defeitos e qualidades – e muito empenhados em sobreviver. Nessas condições, para permanecer à tona é preciso evitar vacilos. Uma falha e pode ser o fim. Em especial quando se convive com gente perigosa, para quem a vida humana não vale um guarani.

Aliás, o filme busca a naturalidade da “vida como ela é”. Com pouca preocupação em ser formalmente elegante, reproduz diálogos como eles se dão de verdade. Por isso, as falas são mescla de espanhol e guarani, num rápido dialeto que exigiu legendagem mesmo para as cópias exibidas no Paraguai.

Apesar de deslizes (como alguns personagens francamente caricatos), Sete Caixas exibe um frescor e dinâmica exemplares. A poluição visual que se projeta na tela é aquela mesma do ambienta caótico do Mercado 4, onde a história foi filmada. A vida pulsa por si, e não tem necessidade de ser bonitinha para exibir sua força e plenitude. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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