Dança de rua é trunfo do musical ‘Nas Alturas’

Quando estreou na Broadway, em 2008, depois de passar pelo circuito off, o musical In the Heights surpreendeu pela aposta nas danças de rua – ao retratar a vida de latinos que vivem em Washington Heights, na periferia de Nova York, o espetáculo encantava com o breaking, o hip hop free style e outras vertentes da dança urbana, além do rap dominando as canções.

A mesma surpresa provoca a versão nacional, intitulada Nas Alturas, em cartaz no Teatro Bradesco, em curta temporada. Um elenco dominantemente jovem se aplica com louvor ao executar as coreografias originais de Andy Blankenbuehler, que equilibra bem malabarismo com uma graciosidade cênica. O resultado são números de tirar o fôlego, especialmente o de abertura, quando o público é apresentado à comunidade por Usnavi (Péricles Carpigiani), o dono da venda local.

Se sobra disposição e garra, porém, faltam elementos essenciais para que o espetáculo realmente atinja as alturas. A começar pelo ritmo – apesar desse tipo de música exigir uma aceleração na condução da história, é preciso que o domínio da narrativa fique bem evidente, alternando euforia com momentos em que a história respire mais pausadamente. Infelizmente, com algumas exceções em que surgem números solos, não é o que ocorre, dificultando o bom usufruto da história.

Implicância de quem já tem uma certa idade? Pode ser, mas toda boa obra necessita de um tempo relativo para que suas qualidades sejam descobertas. E Nas Alturas tem pontos positivos, como a presença cênica e a voz cristalina da jovem Myra Ruiz, que interpreta Nina, uma espécie de Julieta apaixonada pelo Romeu proibido, Benny (Ricardo Marques), que trabalha na loja de carros de seu pai. Com apenas 21 anos, Myra é uma grata promessa na constante renovação de elenco do teatro musical brasileiro.

Também Gabriel Malo como Sonny, primo de Usnavi, tem presença marcante, especialmente ao bem combinar humor com habilidade na coreografia. Infelizmente, não foi possível observar o trabalho de Cleide Queiroz como Abuela, substituída na apresentação avaliada.

Um elenco promissor, portanto, carente de um correto empurrão. Se a cenografia é simples mas eficiente, a iluminação – a se julgar pela apresentação de domingo – comete erros grassos, não de manipulação, mas de criação, confundindo o foco do público.

Paulo Nogueira, diretor musical, e André Dias, diretor geral, são profissionais competentes no gênero, comprovados pelo extenso e diversificado currículo de cada um. Por isso, o crítico se sente à vontade para cobrar mais depuração em um espetáculo criado justamente para atrair a atenção e adesão do público jovem, aquele que vai dar a continuidade necessária ao teatro musical brasileiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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