Livro descreve comportamento sexual brasileiro ao longo da história

“Não existe pecado abaixo do Equador”. A frase dos viajantes europeus data de 1500 e entrou para o folclore popular. O sociólogo Paulo Sérgio do Carmo dedicou os últimos quinze anos a montar um mosaico para provar que esta história era real. E conseguiu. O resultado é o livro Entre a luxúria e o pudor: a história do sexo no Brasil (editora Octavo, R$ 68). A publicação descreve o comportamento sexual brasileiro ao longo da história, começando com a chegada dos portugueses que encontraram uma multidão de mulheres peladas e acessíveis. Os maridos não se importavam se elas se divertissem e ainda ofereciam ninfetas da tribo para quem era bom de bico. Com tanta fartura, o resto foi consequência. A sacanagem está em nossa origem social.

Padre Anchieta foi um dos primeiros a perceber a sacanagem em terras brasileiras. Ele observou que não existia prostituição e nem precisava. A liberdade sexual era de fazer inveja a qualquer hippie. O padre notou que o índio quando estava com vontade de fazer sexo, não se apertava. Pegava a primeira dona pela frente, “podendo ser velha ou nova, ainda que não muito a seu gosto”, pois ele tinha “quase por certo que teria depois outras”. O senhor de engenho Gabriel Sorares de Souza registrou em 1569 que “os tupinambás são tão luxuriosos que não há pecado de luxúria que não cometam, chegando em alguns casos a não respeitar as irmãs e tias, dormindo com elas pelos matos”. Coisa de louco!

Índios sem pudor

Para povoar um país vasto como o Brasil, Portugal mandou para cá os renegados. Todo tipo de criminoso. Os caras chegavam aqui para cumprir pena e tinham como punição se divertir com centenas de mulheres, comida farta e praias paradisíacas. Quase ninguém reclamava. Sem contar os que deixavam as famílias em Portugal e descobriam nas índias uma fonte inesgotável de prazeres sexuais. Estes homens viraram uma fábrica de mamelucos – filhos de brancos com índias. Os portugueses viam semelhança da índia com a moura, com a vantagem de a índia não ser arisca. “Por qualquer bugiganga ou caco de espelho estavam se entregando aos caraíbas gulosos de mulher”, relata um observador da época. O contato com as índias era facilitado pelos próprios pais, que ofereciam as filhas aos brancos “a troco de qualquer ninharia”, arremata o mesmo narrador.

Fúria das chifrudas

Com a vinda dos escravos negros, os senhores passaram a usar e abusar das negrinhas bonitas. O que poucos sabem é que além de ser abusadas pelos senhores, as negrinhas de “rijos peitos e belos dentes” sofriam verdadeiras atrocidades por ciúme praticadas pelas mulheres destes senhores, quase sempre portuguesas feias, porque as bonitas ficavam em Portugal. Eram comuns os casos de mutilações, extirpações, deformações nas regiões com poder de sedução como as nádegas, dentes, orelhas e faces. José Alípio Goulart relata o caso de um senhor que elogiou os olhos de sua escrava e a mulher, furiosa de ciúme, mandou arrancá-los à ponta de faca para oferecer ao marido numa bandeja de prata no jantar. Outra quebrou os dentes de uma escrava com o salto das botas, queimou a cara e as orelhas por ela ser elogiada pelo marido. Apesar desta fúria doméstica, os maridos não queriam nem saber.

As relações ilícitas entre homens casados e suas cativas é um longo capítulo da história do Brasil que pode ser conferido pela grande população mulata na colônia e mesmo no império, com um resultado cromático que pode ser observado ainda hoje.

Arquivo

Até na sacristia

Que os padres estavam longe de serem santos, não é preciso ser doutor em teologia para saber. Padres e frades na época da colônia (não eram todos, claro) vinham para o Brasil falar uma coisa na igreja e fazer outra na alcova – ou mesmo na sacristia. No Pará, no século XVII, Fre,i Lucas de Souza era tão efeminado, que dizia a seus amantes que era mulher. Aquilo que usava não era batina, era saia. Em um ano e meio ele manteve cerca de duzentas cópulas anais com um tal Manuel de Barros.

Outro padre devasso foi Frutuoso Álvares, que pela prática de sodomia foi degredado de Braga para Cabo Verde. E como continuou a praticar o delito, foi degredado para Salvador. E como continuou a reincidir, a Inquisição caiu em cima dele em julho de 1591. O padre relatou seus casos com tantos detalhes que o inquisidor entrou em parafuso e liberou o velho libertino. Claro que estes são apenas alguns exemplos. Pedofilia e homossexualidade vêm lá de trás. Quer dizer, dos tempos antigos, claro! E tudo isto aí foi apenas o começo.

Ninguém sai do armário

Não é preciso dizer que no período colonial brasileiro a Inquisição estava de olho nos homossexuais, que não saíam do armário, nem que ele pegasse fogo. São Tomás de Aquino considerava pecados nefandos a bestialidade (transar com cabras e vacas), a masturbação (que hoje os sexólogos dizem que até faz bem pra saúde) e o homossexualismo. Para a igreja, sexo anal era coisa terrível, um “hediondo pecado, péssimo e horrendo, provoca a ira de Deus e é execrado até pelo diabo”.

Para a igreja, nem o capeta suportava a coisa. A legislação civil portuguesa era severa com a sodomia, considerada crime: “Que seja queimado e feito por fogo em pó, para que nunca de seu corpo e sepultura possa haver memória”. O temor da fogueira era tão grande que o mulato Fernão Luiz, depois de sodomizar um rapaz, entrou em pânico. Com medo de ser descoberto, ele matou o rapaz, o pai e a mãe com uma galinha envenenada. Descobriram do mesmo jeito. Por causa dos defuntos ele teve de contar a história que originou o crime. Como diz o ditado, por um rabo perdeu a cabeça.

Pecar ou não pecar, eis a questão!

Gaspar Barléu, historiador de Maurício de Nassau, tinha uma teoria curiosa: ele achava que os holandeses não foram derrotados pelas armas brasileiras, mas pelos vícios que contraíram por aqui. Aliás, antes de invadir o Brasil, a Holanda já temia os nossos pecados. O maior medo dos holandeses era chegar aqui e “corromper-se e embotar-se com o contágio dos deleites exóticos”. Não deu outra. Com medo de cometer pecados, os holandeses se esqueceram do resto e foram derrotados.

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