José Mayer já coleciona papéis em que encarna um irresistível sedutor

José Mayer é um dos últimos galãs clássicos da tevê brasileira. Daqueles que conseguem, por exemplo, formar par romântico, de forma convincente, tanto com moçoilas quanto com mulheres maduras. Na pele do neurocirurgião “pegador” de Mulheres Apaixonadas, ele é disputado por Christiane Torloni, Camila Pitanga e Carolina Kasting, além de atrair olhares cobiçados de outras mulheres da trama. “O César passa o rodo geral. Ele é terrível”, brinca o ator de 53 anos. A lista de beldades que já “caiu nos braços” deste mineiro é enorme. Reúne atrizes como Helena Ranaldi, Carolina Ferraz, Mel Lisboa, Deborah Secco, Adriana Esteves, Malu Mader, Luma de Oliveira, Patrícia Pillar… “É claro que faz bem ao ego ser reconhecido como galã”, confessa o ator, que em 2000 comemorou bodas de prata com a esposa e atriz Vera Fajardo.

José Mayer aponta as próprias características físicas para explicar a chave do seu sucesso com o público. O ator tem 1,75 m de altura, cabelos grisalhos e olhos castanhos. Ou seja, mais comum, impossível. “Tenho o perfil do brasileiro médio. Só não sou considerado feio porque a profissão me dotou de qualidades”, acredita José Mayer. Com 16 novelas, cinco minisséries, dez filmes e incontáveis peças de teatro em 35 anos de carreira, o ator já viveu tipos bastante díspares. Entre eles, o bandido Jorge Fernando da minissérie Bandidos da Falange, o histórico Zé do Burro de O Pagador de Promessas e o engraçado Osnar de Tieta. Ultimamente, no entanto, o ator tem encarnado tipos sedutores, como o Fernando de Presença de Anita e o Pedro de Laços de Família. “Não me preocupo em mostrar facetas camaleônicas”, frisa.

Quanto ao desfecho da novela, o ator avisa que o médico não deve terminar com a protagonista Helena. “Ela vai acabar com o Téo. O Maneco quer mostrar que é possível salvar um casamento. Acho justo”, confidencia.

P – Você define o Doutor César como um herói ou um vilão?

R – Não racionalizo como ator. Me empresto e me surpreendo, às vezes, com o que o autor escreve, mas por método mesmo. Não me aflijo quanto às atitudes do personagem. Simplesmente, realizo. Porque sofrer e questionar as atitudes é algo que a gente faz na vida pessoal. Nós é que devemos ser checados e revisados. A minha relação com autores e personagens é de me soltar. O ator tem este privilegiado espaço de liberdade onde ele pode ser, sem nenhum pudor, aquilo que a imaginação do escritor inventar.

P – Você sempre mantém este distanciamento dos personagens?

R – Desde o início da carreira. Lembro que na minha segunda peça, em 1969, Futebol Alegria do Povo, tinha de dar um beijo na boca de um homem. Fazia um cartola e o que se cobrava de mim ultrapassava em muito a minha medida moral. Mas me atirei e fiz a cena várias vezes. Então, este distanciamento é uma maneira de me poupar também. Por isso, não julgo o César. Claro que após 160 capítulos, tenho o perfil do cara. Vejo qualidades e defeitos no César, mas o importante é realizar o que o Maneco escreve. Como personagem, o César é admirável.

P – Uma pesquisa aponta que você teria dado 2.800 beijos durante a sua carreira na tevê. É verdadeiro isso?

R – Pode ser, sim.

P – Quantos destes foram técnicos?

R – Ainda que pareça ser verdade, tudo que o ator faz é técnico. Pelo menos deveria. A própria palavra ator, semanticamente, lembra ação. O ator simplesmente faz e o espectador completa a mágica. O ator tenta interpretar da maneira mais crível, mas tudo que realiza é técnico, porque ele está no controle. Não está vivenciando aquilo. O ator decora, ensaia e faz.

P – Mas muitos atores levam os pares românticos da fantasia para a realidade…

R – Mas não é só no meio artístico. Na verdade, o amor e a paixão acontecem muito em ambientes de trabalho. Embora seja desaconselhável, as pessoas se envolvem, namoram… Até porque no ambiente de trabalho se encontram pessoas com afinidades. Mesmo complicado, acho normal que as pessoas se envolvam no trabalho. Não há como evitar. Mas isso não é um privilégio de gente de teatro, tevê ou cinema.

P – Como é contracenar com atores de diferentes quilates?

R – Para mim é impossível, como ator, prescindir do outro. Como no futebol, não dá para jogar sozinho. O que ajusta um ator é o outro ator. Então é preciso fazer uma espécie de trabalho de base. Porque há momentos que se contracena com gente sem muito preparo. Isto já me aconteceu e não se pode ignorar. É um suicídio se você fizer isso. Na tevê não dá para resolver nada sozinho. Você tem de incorporar o outro. Porque o mau ator pode piorar o bom ator. No entanto, a maioria dos atores brasileiros é gente talentosa. Um exemplo foi Presença de Anita com a estreante Mel Lisboa.

Voltar ao topo