‘O Prêmio’ vence Festival de Cinema Latino-Americano

Em Berlim, em fevereiro, o filme da diretora argentina Paula Markovitch, “O Prêmio”, já havia seduzido os críticos e o júri. Ninguém se surpreendeu muito quando recebeu o Urso de Prata de realização artística, com destaque para o trabalho conjunto do fotógrafo Wojciech Staron e a diretora de arte Barbara Enriquez. No domingo à noite, a produção mexicana recebeu o prêmio da crítica no 6.º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo. A cerimônia realizou-se no Memorial da América Latina e quem recebeu o prêmio foi o produtor Gustavo Montiel. Para ele, a obra é um resumo da América Latina.

“El Premio” conta a história de mãe e filha que se isolam numa pequena cidade. A garota ganha na escola o prêmio do título – a melhor redação sobre um tema patriótico. Para a mãe é um duplo tormento – a menina quer o prêmio, mas ele ameaça revelar segredos familiares e que dizem respeito justamente ao envolvimento dos pais da menina com a guerrilha que combate o regime militar da Argentina. Existem elementos autobiográficos na trama que a diretora viabilizou no México, em produção com a Polônia.

O prêmio do público foi para o brasileiro “Transeunte”, de Eryk Rocha. Primeira ficção de Eryk, o filme não conta propriamente uma história, mas acompanha esse idoso – Expedito – que transita pelas ruas do centro do Rio. Um filme sobre um velho feito por um jovem de pouco mais de 30 anos pode parecer inusitado ou até surpreendente, mas o que mais encanta em “Transeunte” é a riqueza de observação. Eryk Rocha é filho de Glauber Rocha e Paula Gaetán. Para os críticos, é fácil recorrer a fórmulas do tipo que ele carrega o DNA dos pais. Como isso não existe – o DNA do cinema -, o filme é resultado do amadurecimento do cineasta.

Eryk é grande montador, com um sentido muito preciso do visual. Boa parte do filme passa-se num apartamento com vista para uma construção. Não foi fácil achar a locação, como não foi fácil achar o ator, mas a escolha de Eryk não poderia ter sido mais perfeita. Fernando Bezerra, que faz o papel, foi o melhor ator de Brasília no ano passado. É minimalista e até por esse rigor o filme não facilita a empatia com o público. Eryk não deixou por menos e declarou-se surpreso e feliz por estar recebendo seu primeiro prêmio do público.

Durante uma semana, o 6.º Festival Latino-Americano apresentou 110 filmes e trouxe cerca de 100 convidados à cidade. O evento deste ano prestou homenagens a Orlando Senna e ao escritor Gabriel García Márquez, fazendo uma retrospectiva do primeiro e exibindo filmes adaptados (ou com roteiro) do segundo. A programação incluiu o único filme realizado pelo próprio Gabo – o curta “A Lagosta Azul”, que ele fez na Colômbia, nos anos 1950. Outra retrospectiva prestigiou o novo cinema argentino e trouxe o diretor Pablo Trapero a São Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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