Cinema

Natalie Portman é a favorita ao Oscar

Existem filmes que têm o dom de transferir a agonia ou êxtase dos personagens para os espectadores. Como se simplesmente ignorassem a quarta parede (parede imaginária através da qual a plateia assiste passiva à ação do mundo encenado), tais produções exigem que nosso corpo não trabalhe apenas a visão, a audição e a mente em um estágio, digamos, normal.

Estes trabalhos necessitam um esforço ainda maior, com injeção de cargas e mais cargas de adrenalina. A sensação que dá após sair do cinema é a de ter sido impiedosamente atropelado por um rolo compressor, tamanha a pressão e até mesmo um desgaste que sentimos. É o caso de Cisne negro, novo trabalho do diretor Darren Aronofsky (Réquiem para um sonho, O lutador) que estreia hoje no cinema.

Apostando em um drama psicológico e utilizando como pano de fundo o espetáculo O lago dos cisnes, a trama mostra toda a pressão que a dedicada bailarina Nina Sayers (Natalie Portman) acaba se sujeitando.

A obsessão pelo seu papel, que também acometera a ex-primeira bailarina, Beth Macintyre (Winnona Ryder) faz com que sua mente perturbada tenha que lidar com as frustrações, os medos, os delírios e ainda ter que encarar a sombra feita pela bailarina Lily (Mila Kunis), que vem agradando cada vez mais o diretor da companhia, Thomas Leroy (Vincent Cassel). O resultado disso é que vivemos a realidade e a loucura de Sayers, onde não sabemos distinguir qual é qual.

Aronofsky, que vem ganhando espaço após a realização de bons projetos, concebe este Cisne negro como a sua obra-prima (ao menos por enquanto). O diretor demonstra ter todo o controle sob suas mãos, extraindo o melhor dos personagens.

Por esta razão, temos uma talentosa Natalie Portman realizando um trabalho impecável, em que a cada frame que passa ela vai mergulhando em um mundo sombrio e de incertezas.

Sua atuação é o grande chamariz para o filme e que me desculpem as outras concorrentes do Oscar (Nicole Kidman em Reencontrando a felicidade; Jennifer Lawrence em Inverno da alma; Michelle Williams em Blue valentine; e Annette Bening em Minhas mães e meu pai), mas se o prêmio não for para Portman será uma grande injustiça. Difícil crer que outra atriz poderia ir tão longe aos devaneios da obcecada bailarina, assim como é improvável não acreditar na veracidade de sua atuação.

Culminando com um terceiro ato que mostra um lado do qual a gente prefere manter sob um rígido controle, mas que é magistralmente explorado neste trabalho, o filme chega a um clímax marcante, que certamente irá ficar na memória de quem for assistir ao filme.

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