Enéas e Havanir são os deputados mais votados da história

Em uma saleta acanhada do edifício Gisela, dois andares acima da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, na região central da capital, o PRONA faz a sua festa. É uma comemoração diferente daquela que os outros partidos fazem nessas ocasiões – não há gritos, tapinhas nas costas, multidão à porta e nem composição ao pé-do-ouvido com políticos da velha guarda. Serve-se café e água.  No recinto, estão alguns diretores do partido e os dois sucessos políticos do momento: Enéas Ferreira Carneiro e Havanir Tavares de Almeida Nimts, que somam 2,2 milhões de votos. Ele com 1,558 milhão de votos para deputado federal. Ela com 676,99 mil para estadual.

Enéas 5656 e Havanir 56500 arrasaram: são os mais votados da história da Câmara e da Assembléia paulista. Deixaram para trás nomes consagrados da política nacional.

O fenômeno Enéas provocou uma situação sem precedentes. Por conta de uma estranha matemática eleitoral que disciplina o voto proporcional, a fantástica votação do presidente do PRONA puxou com ele mais 4 candidatos do partido, ilustres desconhecidos que ficaram longe da modestíssima casa dos mil votos (ou, porcentual correspondente a 0,00%). São outros 4 médicos e um advogado: Irapuan Teixeira (665 votos, com 99,15% apurados até 17h37 de ontem), Ildeu Araújo (378 votos), Elimar Máximo Damasceno (478 votos) e Vanderlei Assis de Souza (274).

Também vai fazer parte do séquito do doutor Enéas em Brasília o médico Amauri Robledo Gasques, que teve um melhor desempenho nas urnas e ficou com 18.276 votos – ainda assim uma cota bastante inferior à que outros fizeram por merecer e, nem por isso, garantiram lugar na Câmara.

No pequeno escritório da Brigadeiro – conjunto 21, sede do diretório regional do Partido de Reedificação da Ordem Nacional -, decorado com um aparelho de telefone com 7 linhas, duas mesas e três quadros com fotos suas na parede, Enéas leva o lenço branco à cabeça que transpira muito. E ajeita os óculos de aros grandes demais para o rosto escondido atrás da barba espessa.

Não parece surpreso com seu 1,5 milhão de votos. ?É simplesmente o reconhecimento da população pelo caráter absolutamente positivo, lúcido, enérgico e sincero com que todos os pronunciamentos são feitos, desde que me lancei na vida política em 1989?, discursou aos repórteres, em seu habitual tom carregado, enquanto na TV à sua frente, instalada sobre uma maca hospitalar, passava o vídeo da campanha, 33 segundos no ar ao som da quinta sinfonia de Beethoven.

Sobre a incrível vitória dos outros pronistas, que não saíram do zero porcentual, doutor Enéas pode dizer: ?Os colegas foram escolhidos há um ano porque são membros fundadores ou são da comissão executiva nacional; foi tudo planejado para que pudéssemos ter uma bancada forte, séria, poderosa no Congresso.? Não admite que a ascensão do bloco que teve menos de mil votos receba a pecha de injusta.

?O conceito de justo em política é extremamente estranho; é justo, por exemplo, que um indivíduo que nunca fez nada tenha chance apenas porque é um baderneiro, grevista ou porque é líder sindical? Será que é justo? É um conceito muito discutível, eu prefiro dizer que, em tendo sido aceita a minha postulação por um número gigantesco de eleitores, é justo que indivíduos preparados estejam comigo para que a minha voz possa ecoar.?  Doutor Enéas define o perfil de seus parceiros de campanha: ?São profissionais que dedicaram a vida inteira à atividade médica e ao ensino, que apenas não são conhecidos da grande massa.?

O tradicional voto de protesto teria garantido tantos votos para o líder do Prona? ?Eu me recuso a responder, é muito cômodo para os meios de comunicação chamarem de protesto quando um candidato diplomado em medicina, matemática e física e professor para mais de mil médicos-alunos por ano chega onde chegou.? Lembrou que, em 1994, teve quase 5 milhões de votos quando se candidatou a presidente da República. ?Tinha apenas minuto e meio na TV, se tivesse 3 estaria eleito presidente no primeiro turno.?

Falou dos ?semi-analfabetos? que se candidatam e se elegem. ?A maioria é semi-analfabeta e nem sabe o que se passa no Brasil, há indivíduos de preparo, mas a grande é eleita e não sabe nem o que está acontecendo, aperta botão apenas, esse fato inconteste.? O que o mais votado planeja fazer no Legislativo? ?Lutarei por aqueles que não têm voz, pelos oprimidos, tudo o que eu fizer será público, serei o mesmo que sou; tentarei levantar os meus colegas do estado letárgico em que o Congresso se encontra, permitindo que o Brasil seja estralhaçado e que a Nação seja entregue como está sendo ao desamparo.? Também não quer ser chamado de deputado: ?Me chamem de doutor Enéas, eu vou ser médico até morrer, deputado é algo transitório.?

Voltar ao topo