SBT reprisa a novela Xica da Silva, da extinta Manchete

tv51.jpgCertas coisas, definitivamente, só acontecem com o SBT. Em 1996, o autor Walcyr Carrasco recebeu um convite do diretor Walter Avancini para escrever a novela Xica da Silva para a Manchete. Como era consultor de teledramaturgia do SBT, adotou o pseudônimo de Adamo Angel. ?O codinome foi sugestão do Avancini. Ele achava que o Angel fazia um contraponto bem-humorado ao meu carrasco?, lembra Walcyr, hoje na Globo.

Mesmo assim, Adamo Angel foi desmascarado por Silvio Santos e obrigado a escrever outra novela para o SBT: Fascinação, de 1998. Quase dez anos depois, o dono do SBT resolveu adquirir os direitos de Xica da Silva e exibi-la, a partir de amanhã, no horário das 21h15. Coincidência ou não, a Record vem conquistando o segundo lugar no ibope com a história de outra escrava famosa, a Isaura, do romance de Bernardo Guimarães.

Na época, Xica da Silva tornou-se uma das maiores audiências da Manchete. Embora não tivesse alcançado os históricos 40 pontos de Pantanal, a trama do fidalgo português que, na Diamantina do século XVIII, apaixonava-se por uma escrava, conquistou heróicos 15 pontos contra O Rei do Gado, de Benedito Ruy Barbosa. O sucesso foi tanto que, ao término da novela, a direção da Manchete presenteou Walcyr Carrasco e Walter Avancini, falecido em 2001, com viagens a Las Vegas. Na capital mundial do jogo, os dois ganharam uns bons trocados nos caça-níqueis. Com o dinheiro do prêmio, Avancini assistiu a lutas de boxe, seu esporte favorito, e Walcyr, glutão assumido, esbaldou-se com panquecas de caviar. ?Se hoje eu sou o autor que sou, devo a ele?, garante Walcyr, que voltou a trabalhar com Avancini em O Cravo e a Rosa e A Padroeira, na Globo.

Um dos grandes méritos de Xica da Silva foi revelar a atriz Taís Araújo. Na ocasião, Avancini pensou em abrir inscrições para selecionar uma atriz para o papel-título. Mas, pouco depois, resolveu apostar mesmo em Taís, que havia trabalhado com ele em Tocaia Grande, na Manchete. Polemista nato, o diretor esperou a atriz completar 18 anos para gravar as famosas cenas de banho na cachoeira. ?Aquilo foi horrível! Eu me senti invadida à beça. Se era para ter alguém pelada na novela, eles poderiam ter chamado qualquer uma?, esbraveja Taís. Apesar do tom indignado, a atriz garante não guardar mágoas de Avancini. ?No dia em que a novela acabou, o Avancini me chamou na sala dele e abriu uma garrafa de champanhe. Devo minha carreira a ele?, recorda.

Muitos atores, aliás, devem a carreira a Avancini. Murilo Rosa, Carla Regina e Giovanna Antonelli são apenas alguns deles. Hoje na Globo, Giovanna admite que Avancini era mesmo exigente e autoritário. Se o ator chegasse para gravar, por exemplo, sem o texto decorado, levava uma bronca daquelas. ?Levei muito puxão de orelha do Avancini. Ele queria o melhor do ator em todas as cenas. Depois de trabalhar com ele, passei a respeitar ainda mais a minha profissão?, emociona-se Giovanna. Mas nem todo mundo soube aproveitar a oportunidade. Adriane Galisteu foi convidada para participar de quatro capítulos da novela, mas ficou quase nove meses no ar. Na trama, sua personagem sofria abuso sexual e ficava vagando, seminua e meio apalermada, pela região. ?Sofri nas mãos do Avancini. Ele tinha um jeitão tirano de dirigir. Vivia pedindo a ele para matar minha personagem?, recorda a apresentadora do Charme, no SBT.

Na verdade, Adriane Galisteu foi apenas uma das muitas ?participações especiais, de Xica da Silva. Avancini chegou a trazer da Itália a deputada Ilona Staller, mais conhecida como a atriz de filmes pornôs Cicciolina. Nos últimos capítulos, ela apareceu nua tomando banho com o ator Victor Wagner, que interpretava o contratador João Fernandes. ?O Avancini era um mestre do marketing. Ele sabia, melhor que ninguém, como chamar a atenção do público. Lembro que a aparição da Cicciolina nos últimos capítulos elevou e muito a audiência da novela?, recorda Jacques Lagoa, co-diretor de Xica e hoje também no SBT. 

Voltar ao topo