Museu do macarrão

(Roma) – Domingo pede cachimbo, Santa Felicidade e muito macarrão.

Se a frase parece definitiva para uma maioria do Brasil meridional, para outros, nem tanto: muito melhor, um rápido fast-food. Macarrão é coisa de museu.

De fato, coisa de museu: pelo menos em Roma, a dois passos da Fontana di Trevi, existe o museu do macarrão, o único do mundo: o Museo Nazionalle delle Paste Alimentari. Quem vai ao número 17 da Praça Scanderbeg tem direito, por 9 euros, a uma singular excursão através da história da Itália, com os artefatos usados pelas avós, as máquinas e os fazeres da pasta.

Spaghetti, papardelle, bucatini, fusilli, farfalloni, lasagne, gnocchi, tagliatelli etc. Pasta fresca ou pastasciutta, do Norte ao Sul a Itália se une por um imaginário e compridíssimo fio de macarrão que se modela, se modifica e se tempera com molhos e condimentos diversos.

O museu, criado em 1993, esclarece desde o início que a origem de toda pasta seca (pastasciutta) é a sêmola tirada do grão duro. Já a farinha derivada do grão tenro só serve para a pasta com ovos, os doces e o pão. Na visita guiada, o museu nega que o macarrão tenha origem chinesa e que Marco Polo o tenha trazido para a Itália. As raízes seriam muito mais fortes e distantes no tempo.

Diversamente dos museus que guardam o passado, o do macarrão é um tributo ao prato nacional da Itália, bem vivo e presente na celebração diária de um ritual familiar. Seja em Santa Felicidade, seja em qualquer recanto de Roma.

ARANCIO D’ORO, POR EXEMPLO

Para quem vem a Roma e com fome tanta que não pensa em arriscar tempo, paciência e dinheiro, uma dica rápida de onde comer bem, com preços e serviços honestos, mais todos os prazeres em anexo: os restaurantes Arancio d’oro (Via Monte d’Oro, 17), Settimio all’Arancio (Via dell’Arancio, 50) – distantes meia quadra, vizinhos da ponte Cavour – e Al Piccolo Arancio (Vicolo Scanderbeg, 112) – bem ao lado do museu do macarrão.

Como endereço gastronômico, os três restaurantes pertencem à piccola rede Arancio, nascidos na via dell’Arancio, 50. Como endereço familiar, eles nos remetem à região do Abruzzo, de onde vieram os proprietários Delia e Settimio Cialfi, os gentis e bem simpáticos proprietários.

O cardápio é o romano tradicional, tanto quanto a imensa freguesia de profissionais liberais, jornalistas, intelectuais e televisivos da RAI, pois o entorno é endereço de muitos jornais. Turistas, são raros. Bem ligeiro, algumas delícias: de entrada, carciofi alla Giudia (coração de alcachofra) por 4,50 euros. Depois, risotto al Nero di seppia, (7,50 euros), spaghetti alle vongole veraci (8,00 euros), fettucine ai funghi porcini (7,00 euros), petto d’oca(pato) al sale aromatico (14,46 euros) ou costolette di agnello (ovelha) com puré di fagioli (12,50 euros), entre dezenas de outros pratos. O vinho da casa é o Montepulciano d’Abruzzo (8,00 euros). No Arancio d’oro quem recebe é o tunisiano Hedy. No Settimio all’Arancio, com mesas ao ar livre, o garçom de Sri Lanka, Fernando, é muito atencioso.

Até quarta-feira e pode recortar: com estes endereços, Roma fica bem mais eterna.