Entrevista

“Curitiba tem um novo poeta pop”, decretou o jornalista e crítico da cena musical curitibana Luiz Claudio de Oliveira, “batizado nos afagos do público que, aos milhares, com os braços para o alto e a plenos pulmões cantava seus versos”. Depois de sua gloriosa performance na Boca Maldita, no sábado da Virada Cultural, o poeta e compositor Luiz Felipe Leprevost entrou para a galeria dos nossos poetastros, ao lado de Paulo Leminski.

– Como é que é o gostinho do sucesso em plena Boca Maldita?

Leprevost – Nada pode ser melhor, o alquímico milagre de transformar o amargo de uma única boca (embora mítica, e mítica até por tal amargor) no hálito fresco da alegria de inúmeras outras bocas contagiadas.

– Já acostumou os ouvidos com os berros, gritos e sussurros das fãs?

Leprevost – Estar pronto é tudo (aprendi com Shakespeare, em seu Hamlet).

– Você acaba de entrar para a galeria dos poetas pop de Curitiba, depois de Emílio de Menezes, ThadeuWojciechowski e Paulo Leminski. Para sua consagração, não faltaria ser citado num conto de Dalton Trevisan?

Leprevost – Tal reconhecimento me deixa feliz, especialmente porque bebi e bebo nestes mestres. Agora, diria que mais do que ser citado, poder ler a monumental obra do Dalton é já privilégio suficiente para todos nós.

– Dizem que o curitibano só elogia pelas costas. Você está sendo uma exceção?

Leprevost – Se realmente o elogio em Curitiba só é feito pelas costas, então sou mesmo exceção, o que recebo de carinho nas ruas, no meu corpo a corpo com a cidade, é algo de um comportamento muito solto, desopilado, amigo.

– Seria você a contraprova de que o curitibano só é frio por natureza no inverno?

Leprevost – Veja, sou o inventor da Tecnologia do Afeto. E Tecnologia do Afeto é assim, não precisa fazer nada, é só gostar das pessoas. Gostar de gostar das pessoas. E para o frio, há os cobertores de casal.

– Qual é o melhor defeito de Curitiba? E a pior qualidade?

Leprevost – Não sei como responder, não só porque se insinua aporética a pergunta, mas especialmente pelo fato de que tudo o que me vem à mente agora não se sabe nada específico. Diria então, se me permite a frivolidade, que os deliciosos, enlouquecedores doces da Confeitaria das Famílias são muito uma espécie de inimigo que desejo perto, mas devo radicalmente evitar.

– Qual a melhor vista da cidade, do ponto de vista de quem anda a pé?

Leprevost – Nada me emociona mais nas paisagens curitibanas do que, em meio aos indiferentes caixotes de concreto, assaltarem-me algumas coloridas casas de madeira e seus lambrequins, tão resistentes em sua frágil antiguidade.

– Se lhe fosse dada a chave do passado, entraria por qual porta?

Leprevost – Hoje vejo com um tiquinho mais de nitidez, suficiente para que afirme: fosse-me dado o retorno ao passado, gostava de entrar nesta vida exatamente como vim da primeira vez, terceiro filho da Jussara e do Luiz Antonio, o que viria a ser poeta, nascido em 79, em Curitiba.

– Um tipo inesquecível na cena curitibana.

Leprevost – Vão dois. Beto Bruel, por ser o cara que ilumina o ator por dentro. E o Seu Luís, jardineiro da minha infância, em Santa Quitéria. Forte guerreiro ostrogodo, bondoso e delicado. Ele e sua carroça verde puxada por uma branca e mansa égua atravessando o bairro.