Paixão do traço

Paranaense de Japira, Ademir Paixão será a partir de hoje Cidadão Honorário de Curitiba. Berço do primeiro caricaturista brasileiro, Curitiba não podia deixar de homenagear o cartunista que há muito merece uma retrospectiva da obra, como também a história da caricatura do Paraná precisa ser reescrita e ampliada para registrar a carreira deste chargista que vem traçando o reverso da nossa história política.

Resultado da pesquisa e perseverança do historiador Newton Carneiro (1914/1987), “O Paraná e a caricatura” é uma das obras fundamentais para a história do humor gráfico no Brasil, por revelar que Curitiba foi o berço de João Pedro, “o Mulato”, um jovem artista curitibano que, muito antes do que se publicava na Corte Imperial, já produzia caricaturas satirizando ângulos da pacata vida colonial nas províncias do Paraná e Santa Catarina. Apesar de contrariar muitos historiadores concentrados no Rio de Janeiro, Newton Carneiro descobriu em Lisboa oito aquarelas do humilde sulista, pintadas entre 1807 e 1819, com as datas e iniciais J.P. (João Pedro) do autor. Aquarelas como esta na capa do livro de Newton Carneiro, datada de 1817, com a legenda: “Sargento Mór da Milícia de Paranaguá dando despacho e andamento aos feitos atrasados”.

São pouquíssimas as indicações biográficas de João Pedro. Uma delas diz respeito à sua condição de natural de Curitiba, mas talvez fosse de Paranaguá, “admitida a naturalidade curitibana como regional e não citadina”. O que tudo indica é que João Pedro, “o Mulato”, era de origem humilde, em função da omissão do nome de família, a cor e a origem, “pois Curitiba oferecia condições sócio-econômicas inferiores às de outras cidades regionais ao final do século dezoito”.

Hoje na Câmara Municipal, a partir das 20 horas, Ademir Paixão será oficialmente um cidadão nato no berço do primeiro caricaturista brasileiro. Com a bênção de Newton Carneiro e a mais do que justa reverencia da cidade ao maior caricaturista de sua história.