Cachoeiras do Iguaçu

A corrupção está tão entranhada na cultura nacional que até na língua portuguesa as nossas mais belas palavras estão sendo corrompidas. É o caso do que o bicheiro Carlinhos Cachoeira está fazendo com o dicionário, coisa que nem mesmo as traças conseguiram estraçalhar com tanta facilidade.

Das palavras, entendo mal e mal as manhas de como juntar umas com as outras, entretanto desconfio que falta pouco para a total desmoralização da língua portuguesa. Com a adoção de nossas mais belas palavras no batismo de nomes e sobrenomes dos próceres da corrupção, a exemplo do Carlinhos “Beira-Mar”, doravante a crônica policial e política vai ter que engolir os seguintes codinomes: Toninho “Saudade”, Regininha “Alumbramento”, Neném “Borboleta”, Robertinho “Andorinha”, Flávio “Descaminho”, Cleusa “Beija-flor”, Afonsinho da “Mágoa”, Nelsinho “Vaga-Lume”; Carlinhos “Jabuticaba”, Zé da “Lembrança”, Vera “Anjo”, Aninha “Paixão”.

Antes uma palavra que nos trazia uma corredeira de evocações de pura natureza, agora o substantivo feminino “Cachoeira” está causando pesadelos até nos honestos e ordeiros cachoeirenses do sul e do norte do Brasil: Cachoeira (BA), Cachoeiras (RJ), Cachoeira Alta (GO), Cachoeira Dourada (MG), Cachoeira da Prata (MG), Cachoeira de Goiás (GO), Cachoeira de Minas (MG), Cachoeira de Pajeú (MG), Cachoeira do Arari (PA), Cachoeira dos Índios (PA), Cachoeira Paulista (SP), Cachoeiras de Macacu (RJ), Carmo da Cachoeira (MG), Cachoeira do Sul (RS), Cachoeirinha (PE, RS e TO) e Cachoeiro do Itapemirim, terra do cascateiro Roberto Carlos.

Na tríplice fronteira, já estigmatizada como valhacouto de terroristas internacionais, até os contrabandistas de uísque paraguaio temem que a cidade possa ser conhecida como “Cachoeira do Iguaçu”. Isto no singular. No plural, teme-se que os exemplos da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal de Curitiba, somados às falcatruas de Londrina, façam do Paraná uma região conhecida como “Cachoeiras do Iguaçu”.