O Animador de Velórios dos Campos Gerais está de plantão em Brasília. Não sabe ainda o local do guardamento, mas seja lá qual for o defunto, o Jaguara já está na área, com a sua velha conversa mole de sempre.
Como se sabe, conversa mole é a principal ferramenta de trabalho de um exortador fúnebre. E exortações são o que o Brasil mais precisa nesta triste quadra da história da República. O ministro da Fazenda, para citar a mais cotada morte anunciada, é o que se chama no linguajar especializado de um ‘ilustre pé na cova‘. Por mais que o ministro Joaquim Levy seja exortado a permanecer no cargo, até os bagrinhos do lago Paranoá sabem que ele não vai estourar o champagne de ano novo com Dilma Rousseff. Se depender do Lula, no fim do ano Levy vai ouvir das bases petistas:
– Procure a sua turma!
Dentre os figurões que se encontram no bico do corvo, o mais provável é que o Jaguara seja escalado para animar o velório de Eduardo Cunha. Neste caso, é quese certo que não vai aparecer uma viva alma para segurar a alça do caixão do liso e escorregadio presidente da Câmara dos Deputados.
Neste clima de velório que tomou conta de Brasília – com exceção do gabinete cor-de-rosa da senadora Gleisi Hoffmann -, o Animador de Velórios dos Campos Gerais tem na ponta da língua uma história que é tiro e queda para explicar a relação entre Dilma Rousseff e o vice Michel Temer. Com sua conversa mole, o Jaguara vai contar a fábula da anta e o do escorpião.
Por não saber nadar, o escorpião pediu ajuda à uma anta que tomava um solzinho na barranca do rio, jurando que não o morderia pelas costas, no meio da travessia. A anta, de boa memória, sabia que a picada seria insopitável. Mesmo assim, carregou o frágil escorpião nas costas. E, mesmo assim, foi covardemente envenenada. Antes de sucumbirem abraçados um ao outro, a anta ainda teve forças para perguntar:
– Escorpião, por que nos mataste?
– Foi insopitável, é da minha própria natureza!
Como todo o respeito, o Jaguara não quer dizer que a presidente Dilma Rousseff seja uma anta. Parece, mas não é. Com isso, ele quer dizer que o PMDB nunca vai negar a sua própria natureza.
Em sua exortação de posse, Michel Temer ainda vai se justificar:
– Foi insopitável!