Retrato em branco e preto

Neste sábado a memória viva de Foz do Iguaçu tem encontro marcado no Hotel Carimã, em torno da feijoada de lançamento do livro “Gato Preto, Gato Branco”, do jornalista Rogério Bonato. A obra, de fino humor, é o “check-up” afetivo do engenheiro e hoteleiro Ermínio Gatti (foto), nome de peso do turismo e transporte urbano no País.

Autor inventivo, Rogério Romano Bonato alicerçou o livro com crônicas, pequenos retratos da memória de vida de Ermínio Gatti: o sucesso, as posições políticas, fracassos e desgraças, fatos surpreendentes que marcaram Foz do Iguaçu durante um considerável momento de transição. Há, ainda, reflexões sobre a solidão, armas, jogo, jornalismo, futebol, tango, gastronomia, viagens, enfim, todo o caldo de cultura de um personagem muito além de três fronteiras.

Mesmo não se tratando, claramente, de uma biografia, “Gato Preto, Gato Branco – O Retrato de um amigo” (264 páginas, Travessa dos Editores) estabelece a ponte que se formou entre São Paulo e Foz do Iguaçu e de que forma a cidade e seus atrativos foram inseridos (e passaram a concorrer) no sempre futurista mercado de viagens e lazer.

Bonato, um encantador de histórias, recupera com sua leve verve a trajetória de Ermínio, quando o jovem e galante batizava os ônibus da empresa da família com o nome de mulheres estampado na lataria. Além de render homenagem a antigas paixões, imaginava, assim, controlar melhor a enorme frota sem necessidade de decorar o número dos veículos. O artifício atraiu a atenção do escritor José Mauro de Vasconcelos. Em “As Confissões do Frei Abóbora”, ele escreveu: “E Françoise? Tão elegante. (…). Os outros ônibus também tinham nomes (…). Mas Françoise era diferente, parecia ter mais personalidade do que Antonella, Carmen, Dulcinéia, Silvana (…)”.

O autor de “Meu pé de laranja lima” (ícone da geração 70) simpatizava sem conhecer o dono dos ônibus: “Devia ser um belo sonhador”. Gatti retribuiu o elogio com fidalguia: deu a um carro novo o nome de dois personagens do livro, fazendo-o rodar até encontrar o olhar do escritor que lhe telefonou, dias depois, sensibilizado com a distinção.

Diz a resenha do jornalista Robson Meireles, editor de A Gazeta do Iguaçu: “Ao contrário das pinturas sob encomenda, onde são eliminados traços que não agradam a quem paga pelo serviço, Ermínio Gatti deixou-se retratar sem retoques, com a edificação espiritual de quem conhece o verdadeiro significado da arte representada nos quadros e esculturas que lhe fazem companhia no Hotel Carimã.”

Na contracapa, escreveu o repórter Domingos Meirelles: “Rogério Bonato produziu uma obra que exibe a fulguração das pinturas impressionistas do século XIX, ao reconstituir a fascinante trajetória do empresário e mecenas Ermínio Gatti, nascido no bairro paulista da Lapa, até sua glorificação como uma das lendas vivas do Paraná”.

Sobre Rogério Bonato, com licença, ele tem a força das cataratas, de tanto produzir: também artista plástico, edita “A Gazeta do Iguaçu”, um dos mais importantes veículos impressos do interior do País. Criou, com Ziraldo e Zélio Alves Pinto, o “Festival Internacional do Humor Gráfico das Cataratas”, evento cuja proposta foi combater as informações sensacionalistas sobre o envolvimento da região com o terrorismo. Ainda é presidente da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu e, importante, é dono da cadeira 23 do Bar do Juca.