Bonita cor, Roberto!

Se alguém ainda imaginava que a famosa história que o governador Roberto Requião pintou o cavalo do comandante de cor-de-rosa, dentro do quartel, seria mais uma das lendas urbanas de Curitiba, eis a reprodução da Tribuna do dia 28 de abril de 1962. O capitão não gostou, mas bonita cor escolheram os meninos maluquinhos, gente fina da fina flor curitibana.

Naqueles anos dourados da década de 60, João Goulart era o presidente na corda bamba, Ney Braga era o governador, Ivo Arzua o prefeito e o Atlético Paranaense venceu o Flamengo por 3 a 0. E no dia 5 de agosto (sai pra lá!) os atrevidos rapazes que pintaram o cavalo de cor-de-rosa perderam Marilyn Monroe, a musa do cinema.

Naquela edição da Tribuna, a manchete principal dizia: “Óleo de hortelã contrabandeado do Brasil.” Não era óleo de mamona, cujas propriedades foram descobertas bem depois. Era hortelã-pimenta, óleo que as Forças Armadas do Paraguai usavam no resfriamento de “modernas armas bélicas e mísseis, até nos aviões a jato”. Acredite se quiser, mas deu na Tribuna que os paraguaios já estavam de olho nas reservas brasileiras de energia desde aquela época. Tanto que uma vasta rede de contrabandistas comprava toda a produção de óleo de hortelã-pimenta do Paraná e São Paulo.

“Alunos do CPOR pintaram cavalo do oficial de cor-de-rosa”, esta era a segunda manchete da Tribuna, com o seguinte texto:

“Seis alunos do Curso de Preparatório de Oficiais da Reserva, sem pensarem nas conseqüências de seu ato, resolveram fazer uma brincadeira com um oficial superior. Os seis jovens, iludindo a vigilância dos guardas, penetraram no quartel e pintaram o cavalo de uso de um oficial com tinta cor-de-rosa. Brincadeira de mau gosto, mas que não os eximiu de serem enquadrados no artigo 228 do Código Penal Militar e de estarem sujeitos a penas que podem chegar a três anos de reclusão. O fato aconteceu na madrugada do dia 10 de janeiro, deste ano, quando os alunos Antônio Carlos Ribeiro Grein, Joaquim Antônio Guimarães de Oliveira Portes, João Maurício Virmond, Nure Calluf, Roberto Requião de Mello e Silva e Víctor Paulo Miroslau, burlando a vigilância da guarda, penetraram nas dependências do quartel à Praça Osvaldo Cruz e pintaram o cavalo que serve de montada ao capitão Sílvio Cardoso. Irão os seis, agora, a julgamento, tendo ontem comparecido à primeira parte do mesmo confiantes e sorridentes acreditando-se que sua brincadeira ficará por isso mesmo. Estão sendo defendidos pelos advogados Ildefonso Marques e Ataliba Alvarenga.”

“Let’s Twist Again” era o grande sucesso de Chubby Checker nas paradas em 1962. Nesse embalo, com certeza, os rapazes “bossa nova” do CPOR, saíram do julgamento. O capitão Sílvio Cardoso, lambuzado de cor-de-rosa, se retirou do tribunal chorando pitangas (uma expressão da época) com “Escândalo”, o sucesso de Cauby Peixoto.

Dos seis soldados da fuzarca, três deles foram pintar o sete na política: Antônio Carlos (Tatau) Ribeiro Grein agitou o PTB, Joaquim Antônio Guimarães de Oliveira Portes ainda hoje dá as suas pinceladas no Palácio Iguaçu, o terceiro é aquele que ainda dá as tintas no Paraná. E escolhe as cores.