Cartas abertas

“De onde menos se espera, daí mesmo é que não sai nada”, diria o Barão de Itararé para encerrar essa polêmica acerca da lei que proíbe o estrangeirismo na publicidade do Paraná, sancionada pelo governo Roberto Requião. Apesar das tantas ponderações por parte das agências de publicidade, venceu a lógica de Itararé.

Do barão, ao sir Winston Churchill: “Estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem”. Parafraseando o neto do sétimo duque de Marlborough, podemos tirar mais uma lição da cartilha do governador: “Estou sempre disposto a aprender, mas não gosto que me ensinem”.

E não foram poucos os que tentaram ensinar ao jornalista Roberto Requião alguns princípios de comunicação. Um deles, o publicitário João José Werzbitzki, chegou a enviar uma carta ao governador em defesa da livre expressão: “Senhor Governador do Paraná. Pense bem! Os grandes homens reconhecem seus erros. Recuam. Voltam atrás e até se desculpam, quando percebem que erraram. E crescem com esse tipo de gesto. Não é possível que o senhor não tenha ainda percebido o tamanho do equívoco que é esse projeto de lei que obriga a traduzir todos os termos de outra língua na publicidade a ser veiculada no Estado do Paraná”.

A missiva de João José foi pura perda de tempo, posto que o governador não é afeito ao diálogo. Melhor seria o mestre Werzbitzki ter enviado ao “estadista” Roberto Requião a carta que o estadista (sem aspas) Winston Churchill recebeu da sincera e dedicada esposa Clementine.

A Alemanha mostrava suas unhas, só a Inglaterra resistia e o primeiro-ministro Winston Churchill não conseguia dormir com os roncos de Hitler. Naqueles tempos de cólera, Clementine era a única pessoa que nunca manifestava medo diante do estadista que bebia além da conta para esquecer Dunquerque. E isso ela deixou claro no fim de junho de 1940, ao escrever uma carta amorosa e franca.

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“Meu querido, espero que me perdoe por lhe contar algo que acho que deve saber. Um dos homens da sua entourage (um amigo devoto) veio a mim e me disse que você corre o risco de ser antipatizado por todos os colegas e subordinados por suas maneiras cruamente sarcásticas e arrogantes. Parece que seus secretários particulares concordaram em agir como alunos, “aceitar seja o que for” e depois disso escapar de você com um dar de ombros. Mais ainda, se uma ideia é sugerida (digamos, numa conferência) já se espera o seu desdém e, daqui a pouco, nenhuma ideia, boa ou má, será apresentada. Fiquei perplexa e sentida porque nesses anos todos acostumei-me a vê-lo amado por aqueles que trabalham com você e para você. Quando mencionei isso, responderam que ‘sem dúvida são as pressões do trabalho’.

“Meu querido Winston, devo dizer que percebi uma piora em você; e você já não é tão bondoso quanto era”.

“Cabe-lhe dar as ordens, e se elas não forem cumpridas – à exceção do rei, do arcebispo de Canterbury e do presidente da Câmara, você pode demitir qualquer um. Portanto, com esse poder terrível, você deve combinar doses de urbanidade, bondade e, se possível, de calma olímpica. Você costuma dizer: On ne règne sur les âmes que par la calme. (Só com calma podemos reinar sobre as almas). Não posso tolerar que aqueles que servem ao país e a você não o amem, não o respeitem ou não o admirem. Além disso, você não conseguirá bons resultados com a irascibilidade e rudeza. Só vai provocar antipatia ou uma mentalidade escrava”.

“Por favor, perdoe sua amorosa, devotada e atenta Clemmie”.

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Winston Churchill não respondeu à missiva de sua amorosa, devotada e atenta Clementine. Mas mudou de comportamento. Sem perder o bom humor, só não parou de beber.

E ficamos assim, para encerrar o assunto: “Isto não é o fim. Não é sequer o princípio do fim. Mas é, talvez, o fim do princípio” (Winston Churchill).