No smoking (3)

Num futuro próximo, a humanidade vai indicar um planeta para fumantes, com áreas reservadas ao cultivo da maconha. Da celulite ao consumo de colesterol “in natura” (torresminhos), no “Planeta Vycius” tudo será permitido. As gordinhas serão bem-vindas, mas os japoneses merecem uma galáxia exclusiva.

De Tóquio, Helio Ciffoni nos explica por que os japoneses devem ganhar um planeta próprio no expurgo de fumantes do hemisfério solar. Segundo o correspondente exclusivo desta coluna, “Tóquio pulsa com a fumaça do cigarro”. É o que temos hoje de mais semelhante com o futuro “Planeta Vycius”.

Pequeno de corpo, grande de pulmão, o Japão é o terceiro mercado consumidor de cigarros no mundo, ficando atrás apenas de China e Estados Unidos. Em relação ao número de habitantes, ganha uma posição nesse ranking: é o segundo maior consumo per capita, perdendo apenas para os gregos.

Conforme testemunha o curitibano Ciffoni, que uma vez por ano vem respirar no Parque Barigui, “os não fumantes sofrem no Japão, pois a fumaça de cigarros está em todo lugar, mesmo com o confinamento dos fumantes em áreas reservadas. Acontece que, quando estão nas áreas de fumantes, não perdem tempo: fumam o máximo possível durante o pit stop e os arredores tornam-se também enfumaçados”.

Para os não fumantes viciados em comida japonesa: “Os restaurantes têm local para fumantes separado do resto, mas na maioria dos locais os não fumantes é que são segregados, pois os espaços reservados para estes são geralmente menores. E nem pense em pegar um local para fumantes, na hora do almoço, achando que as pessoas vão comer mais e fumar menos. Errado! Entre um arroz e um bocado de peixe, vem uma tragada. E se a mesa tiver quatro pessoas, são quatro fumantes com seus cigarros acesos”.

No blog de Helio Ciffoni, tecnologia, negócios e o cotidiano do Japão no olhar de um brasileiro (http://blog.ciffoni.com.br), origens e costumes do vício: “Homens, mulheres, idosos, adolescentes: todos fumam e dão prosseguimento a este hábito introduzido no Japão pelos portugueses, no século XV. Em 1603 o fumo foi proibido no Japão e plantar e comercializar o tabaco poderia levar ao arresto das propriedades e à prisão. Com a revogação da lei contra o fumo em 1625, os japoneses puderam se deliciar com este hábito que, com forte taxação, é uma das mais interessantes fontes de arrecadação do governo japonês. Alguns locais de grande movimento, em Tóquio, possuem áreas de fumantes cobertas, com enormes cinzeiros e circulação de ar, em plena praça. Estações de trem, como a Tokyo Eki, também possuem suas áreas reservadas e atraem um grande número de fumantes, nunca sendo vistas vazias. Nos cruzamentos de algumas ruas, os transeuntes encontram cinzeiros na calçada, ao lado da faixa de pedestres. Algumas ruas e bairros inteiros não permitem o fumo ao ar livre, ou seja, a pessoa não pode caminhar fumando, nem mesmo fumar sob as árvores ou nos cruzamentos, e é comum encontrar sinais da proibição pintados nas calçadas.

Com aproximadamente 60% da população masculina no Japão constituída por fumantes e uma das maiores taxas de crescimento de novos fumantes entre jovens no mundo, aliada a um dos mais baixos preços de venda, fica fácil entender por que não fumantes como eu sofrem tanto por aqui. Uma carteira de 20 cigarros custa em média 250 ienes, uns R$ 4, muito baixo para a renda per capita do japonês. Como é um vício de custo direto baixo, fica difícil segurar. Vendidos em máquinas, não é possível controlar a idade dos consumidores”.

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A última de Helio Ciffoni: “O governo quer tirar as máquinas de venda de cigarros das ruas e a Japan Tobacco quer então instituir um cartão de usuário, onde só os registrados poderiam comprar cigarros das máquinas, evitando o alto consumo entre adolescentes. Acho que não resolve, mas é mais um passo em que se une a tecnologia com o cotidiano do japonês”.