Plano B

Fico ou não fico? Na véspera de qualquer feriadão, essa pergunta fica pulsando no inconsciente do curitibano. No Carnaval ela bate mais forte. “Não fico”, decidem aqueles que vislumbram uma nesga de sol e a promessa de trégua além da fronteira da cidade. Para a maioria, restar um fim de semana no seu próprio ninho é sempre um Plano B.

Plano A é para quem desce ou sobe a serra. Plano A é um “chocolate com churros” no Café Tortoni de Buenos Aires. Plano A é o Box 32 de Florianópolis. Plano A é jantar no Beto Batata de São Paulo. Plano A é o balcão do Bar Bracarense no Rio de Janeiro.

Plano B é o Mercado Municipal de Curitiba. Plano B é um almoço de sábado com a costela do Nick, no Bigorrilho. Plano B é Santa Felicidade. Plano B é a pizza domingueira do Baviera.

Fosse eu editor de jornal, faria um suplemento especial para vésperas de feriadão com o título de Plano B. Guias e roteiros para um fim de semana comum são muitos, com recomendações quase sempre óbvias vindas das assessorias de imprensa de hotéis, restaurantes, órgãos culturais e cadeias de cinema. Cumprem suas burocráticas funções, para uma cidade com o trânsito e a respiração normais.

No entanto, nas vésperas de feriadão, precisamos de um Plano B. Uma cartilha dirigida àqueles que precisam aprender os primeiros passos numa cidade de ruas vazias e público rarefeito. As aves de arribação, os forasteiros recém-chegados, poucos deles são os iniciados no prazer de desfrutar de um feriadão em Curitiba, esse breve período de armistício urbano. Para usar uma frase feita, porém apropriada, nestes interlúdios os adventícios se sentem mais perdidos que cachorro caído da mudança. Para desafortunados do momento, véspera de feriadão é o Dia do Fico. “Se for para o nosso consolo, diga ao povo que fico!”

Muitos de nossos escritores, cronistas e oetas já descreveram esse envergonhado prazer, mal disfarçando uma elegia à auto-estima dos que ficaram. O escritor Manoel Carlos Karam foi um deles, pedestre que se sentia um passarinho barbudo nos vazios do feriadão.

“Autodidata é um idiota por conta própria”, costuma ditar o nosso mestre e pintor Sérgio Kirdziej. Para o novato não rondar a cidade vazia feito um idiota, o Plano B seria um vade mecum, expressão latina que significa “anda comigo” ou “vem comigo.

Na capa do Plano B estamparia uma das belos retratos que o fotógrafo Fábio Alexandre fez neste feriadão, com o convite: “Anda comigo, vem comigo, vamos ver os ipês amarelos nas ruas vazias de Curitiba”.