Os maledicentes dizem que os vereadores servem bem para dar nome de rua. Não vamos exagerar. No entanto, quantos personagens foram e serão solenemente ignorados nos anais da Câmara Municipal? Ontem lembramos aqui de Almir Logarini, o Bigode, que mereceria pelo menos um minuto de silêncio nos restaurantes de Santa Felicidade.

“Uma avenida para Jamil Snege”, implorou em sua crônica domingueira o escritor Wilson Bueno: “Paulo Leminski (dizia Bueno, nosso anticandidato a prefeito de Curitiba) virou pedreira-show, graças ao pronto empenho de Jaime Lechinski, então assessor de Lerner e amigo de fé do poeta. Toda vez que passo pela Rua João Gava, o trânsito confuso, as multidões, a floresta de carros e a juventude aflita, recordo a tarde da Vila Centenário e sinto uma saudade assim doída do poeta-irmão, feito um secreto desespero”.

Leminski morreu pouco antes da inauguração da Pedreira e, no mesmo dia do funeral, Jaime Lechinski teve a idéia de dar à obra o nome do polaco. Atropelando a burocracia, Lechinski mais que depressa redigiu uma nota à imprensa e a levou na manhã seguinte, ao raiar da aurora, para o prefeito sacramentar.

Irmão camarada do governador Roberto Requião e “embora os inúmeros amigos em várias instâncias do poder, nem uma ruela no Boqueirão para celebrar o Turco. Jardinete, me disseram, esses dias… Jamil Snege é nome de um jardinete, acho que em Colombo, ou no Xaxim. É possível um negócio desses? Tudo é possível em se tratando de Snege, inclusive o esquecimento em que cai dolorosamente o ouro literário que nos legou…”

Dos tantos personagens que não mereceram ainda nem um jardinete, não custa lembrar mais uma vez dos nomes de Oraci Gemba e Aramis Millarch. Segundo a Fundação Cultural de Curitiba (por quem fui até convidado para discutir o assunto, junto com Yara Sarmento), justas homenagens estariam sendo estudadas. Isso há dois anos, ou mais. Se alguma coisa já foi feita, parabéns.

É de Oscar Wilde: “A única obrigação que temos com a história é a de reescrevê-la”. Homenagens póstumas a cientistas, escritores, poetas, músicos, pintores, fotógrafos, cineastas e demais espécies deveriam ganhar tratamento diferente, pois tratam-se de personagens que fizeram diferença. Em vez de jardinetes, o verde da cidade.

Com Wilson Bueno prefeito, Dalton Trevisan vice, o Partido da Utopia (PDU) iria determinar que cada árvore de Curitiba ganhasse o nome de um homenageado.

O ponto de partida seria o livro Árvores de Curitiba, do jornalista Francisco Cardoso. A obra foi publicada em 2004 e contou com importantes colaboradores: Carlos Vellozo Roderjan, da Escola de Floresta da UFPR, o diretor do Museu Botânico Municipal, Gerdt Hatschbach e, nas fotos, Zig Koch.
Que nome dar para a árvore mais antiga de Curitiba, uma imbuia localizada na floresta do Museu de História Natural, no Capão da Imbuia, com idade estimada em mais de mil anos?

– Imbuia Jamil Snege.

O título de mais alta árvore está dividido entre dois eucaliptos do Passeio Público, ambos com 30 metros. Aceitamos sugestões de nomes.

A mais grossa é um eucalipto da Avenida Nossa Senhora da Luz, esquina com a Rua Augusto Stresser, no Jardim Social, com 1,86 metro de diâmetro.

Eucalipto Aramis Millarch. Não que o jornalista fosse um grosso, longe disso, era apenas gordinho e entroncado.

De acordo com Gerdt Hatschbach, a árvore natural de Curitiba mais cultivada é o ipê-amarelo (Tabebuia alba). “É uma espécie que se adapta bem ao clima frio e tem a época de floração no inverno, quando grande parte das outras está sem flores.”

Qualquer artista curitibano merece ter o nome num ipê-amarelo: eles se adaptam bem no clima frio.

O objetivo do livro, nas palavras de Francisco Cardoso, é fazer com que se preste atenção nas árvores e, conseqüentemente, se passe a respeitá-las: “Sem elas, não seríamos nada, nem estaríamos aqui. Como dizem os poetas, elas nos acompanham do berço ao túmulo.”

Com a árvore que fica em frente à sua casa, você homenagearia quem?